“Em 1997, o primeiro-ministro japonês Yashimoto…”
…lá fez qualquer coisa que não me lembro bem. Lembrei-me foi desta frase, porque na passada quarta-feira entrou em vigor o Protocolo de Quioto. (Será que o André Sousa já arranjou emprego?)

Estaremos a assistir a uma nova era na relação Portugal-Europa? Estará a Europa a seguir o nosso caminho?
“Curiosamente, e como atrás referimos, a construção da imagem “irrealista” e “fantástica” de um Portugal “grande” foi simultânea com o início do salto mortal que nos levou ao abismo da decadência; assim, imagem de Portugal sobre imagem da Europa, é inevitável concluir-se, por comparação, que estamos a assistir hoje ao início da decadência europeia, da qual o sinal mais evidente foi dado já esta década pelo “brilho” da ausência da Europa na Guerra do Golfo. Para Eduardo Lourenço, este foi o “acto de cultura” mais sistemático da nossa década de noventa: levará muito tempo até que se descubra, em toda a sua amplitude, o que representou a chamada Guerra do Golfo (…) pela sua ausência militar, a Europa enquanto tal (…) é já a grande vencida da Guerra do Golfo (…) sentido do fenómeno é o mesmo, a Europa saiu da História, a Europa e os Europeus estão mortos por sair de uma história que fizeram durante séculos, que os cansou (…) Bem, foi a esta Europa frágil mas hiperidentitária quanto ao seu passado que Portugal aderiu na década de 80, esperando dela, não a reconversão imperial do sonho já desfeito (para Portugal e para a Europa) pela força das circunstâncias, não um lugar privilegiado (…) mas simplesmente o da normalidade (…) não nos consideramos nem superiores nem inferiores a qualquer outra nação europeia (…)
Miguel Real, Portugal – Ser e Representação (1998)
O Continente de Leiria tinha stocks de livros acumulados em saldos; comprei este por 3€. Infelizmente (para esta temática), hoje estou demasiado racionalista e pouco poético.
É bonito pensar que, de facto, como a Europa foi grande mas já não manda nos destinos do Mundo, acabou por vir ao nosso encontro, que por aí passámos há 400 anos. É, pelo menos, mais próximo da realidade quotidiana do que as “profecias” do Fernando Pessoa; por mais que se goste de Portugal e do poeta messiânico, o Quinto Império e o regresso figurado de D. Sebastião estão mais longe que o campeonato do Benfica. No entanto, esse tal Eduardo Lourenço não me convence. Pior que isso: talvez o nosso grande problema de hoje é pensarmos demasiado no nosso passado grandioso. Olhemos para a Irlanda. Não tem um passado glorioso. Foi amassada e humilhada pelos ingleses, sofrendo toda a espécie de desastres, até ao pior de todos – a Fome de meados do século XIX e a emigração em massa para os EUA, onde eram acolhidos pelo Butcher e pela Família Tammany. Que eu saiba, não tem profecias gloriosas. Os únicos que contribuem para o Império Espiritual Irlandês (que Pessoa sonhou para Portugal) são os U2. Não manda no mundo.
Mas conseguiu fazer civilização, à sua maneira: libertar-se do atraso educacional e do atraso económico, aproximando-se dos “outros”. Podem vir 100 Eduardos Lourenços dizer-me que a Europa deixou de ser o que era, que não me convencem. Na Dinamarca fazem-se filmes em que se põe em causa o sentido da vida depois de todas as necessidades materiais das pessoas estarem satisfeitas. Aí, sim, podemos partir para novas formas de encarar a vida em sociedade. Antes, não vale a pena…e nós, por cá, estamos muito longe da Dinamarca…
(havia também a 3€ um livro muito especial: um estudo/análise sobre vários sistemas políticos democráticos, e o português em particular, sobre os equilíbrios entre o Presidente da República e o Governo, variadas opções constitucionais, etc. O vaidosíssimo autor trazia a sua cara repetida 4 vezes na capa. Um prémio a quem adivinhar o nome desse autor…)

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