Fogos
Daqui a 6 meses, quando a temperatura mínima for de 35º, a máxima de 42º, e eu não puder ter os estores abertos durante a noite devido ao fumo, recordarei o pequeno nevão de hoje. Por agora, resta-me recordar este texto e esperar que as autoridades competentes estejam a trabalhar no assunto:

O que ninguém quer ver, enquanto se reclama o regresso de Salazar para queimar os incendiários – “Basta conhecer um pouco a realidade rural, aquilo que ela era ainda há 50 anos e aquilo em que hoje está transformada, para se concluir que o fogo é, por assim dizer, o seu inexorável destino. Primeiro, foi a plantação sem critério de enormes extensões de pinheiro e eucalipto. Depois, veio a desertificação dos campos e das povoações do interior, a que se somou nova leva de pinheiros e eucaliptos. De então para cá, perdeu-se por completo a noção de que viver no campo, explorar a terra e lidar com a natureza exigem todo um saber e um conjunto de regras a que durante milénios se obedeceu. Nas cidades, a ignorância sobre tal assunto é completa. Nos campos, não se vê gente ou, pior ainda, há gente de passagem, que não faz ideia daquilo que deve e, sobretudo, do que não deve fazer. Por isso, os fogos eram antigamente acidentais e, hoje em dia, estão a tornar-se uma rotina estival.” (…) Podem-se acumular explicações de circunstância, descobrir interesses organizados e escondidos, denunciar pirómanos (…) Como explicação do que está em jogo, é puro fait-divers.”
Diogo Pires Aurélio, Rotina Estival (Diário Notícias, 14 Agosto 2005)

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