Da inocência

Hoje, na minha viagem diária de comboio

eu agora faço o meu commuting de comboio, como alguns já saberão

uma criança fez esta pergunta á mãe:

“quem é que comprou o comboio?”

A mãe, como qualquer adulto, tratou de orientar a criança no sentido da standardização, da normalização e da aceitação bovina do mundo. Primeiro, através de um arremedo de humilhação pública: virou-se para os outros passageiros – alguns deles eram conhecidos, porque se tratava de um grupo – e perguntou se alguém sabia responder à pergunta. Depois, como ninguém respondesse – uma forma prática de mostrar à criança que isso não se pergunta – suspirou para o ar “as coisas de que a criança se lembra” e explicou que isso não interessa.

Uma vitória para José Eduardo Moniz, que está ali a conquistar uma futura audiência das suas novelas.

Eu, se não fosse um gajo normalizado, responderia: “foi o governo!” mas não respondi. Primeiro, porque também estou standardizado, e a mãe era capaz de ficar escandalizada; depois, porque achei que a pergunta não ia satisfazer a criança, porque – e é aqui que eu quero chegar – as crianças querem absorver o mundo, e só elas fazem perguntas verdadeiramente importantes. Já diz o filósofo Fernando Savater que uma criança de 4 anos é muito mais curiosa, esperta, viva e dinâmica que um estudante de 20 anos que não consegue pensar “out of the box”.

O governo, pois então. E depois? Mas qual a pessoa? Fiquei a pensar para mim: foi a CP, uma empresa que pertence ao Estado (“ao governo”, digamos.) Mas pensei também: isso não é resposta que satisfaça a criança. A CP? Porquê? Quem é a CP? Que pessoas a governam? Que pessoas fazem as compras, na CP? Onde foram comprar o comboio? Se não foi ao Continente, foi onde? Quantos comboios viram, antes de se decidirem por aquele? Quanto custou? Já agora: quem vendeu aquele comboio à CP? Como é que o vendedor e o comprador se encontraram, se não foi no Continente? Se eu quiser saber quanto custa um comboio e onde se vende, como faço? Como são e que outras coisas fazem as pessoas que vendem comboios?

Estas eram as perguntas que aquela criança de 7 ou 8 anos estava disposta a fazer, e são as perguntas a que eu não sei responder. Já sei, pelo menos, o motivo pelo qual as não sei responder – o que já não é mau. Mas a verdade é que não sei responder – mas, mais grave ainda: talvez eu não conseguisse fazer as perguntas que a criança fez.

E fazer as perguntas certas, como se sabe, é muito mais importante que encontrar as respostas certas.

Anos 80
esta música não é grande novidade, pois isto foi cantado recentemente no canal do marido da artista. Há uma série de outras músicas que, se eu as quiser no Youtube, terei de colocá-las eu porque não existem, como a “Vígaro Cá, Vígaro Lá” da Lena d’ Água.
Mas enfim, fiquemos com a pivot da TVI – ainda com a sua voz de 1981.

obrigado a justagirlnamedsue.

Uma resposta to “Da inocência”

  1. Daniel Says:

    a musica é boa… tipo herois do mar… gosto do som dos anos 80 em tudo!!!

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