Archive for the ‘Filosofia’ Category

Transcendência

Abril 6, 2010

“Se tentasses repetir determinados eventos ou momentos, perderiam o seu carácter transcendente e tornar-se-iam banais.”

“…e um dos segredos do sentido da vida é tentares tornar transcendente cada momento da tua vida.”

Está enganado o Pedro Arroja quando diz que as mulheres são incapazes de filosofia e de metafísica. Não o digo baseado em qualquer estudo sociológico ou observação empírica, mas apenas na observação atenta da realidade.

Pensamentos

Julho 11, 2009

Perder o mesmo é que sofrer mudança. Mudar, eis em que se compraz a natureza universal, e é segundo os seus planos que tudo vai aparecendo e tudo aparece sob idênticos aspectos desde sempre e há-de surgir sob formas análogas até ao infinito.
Para que é que te pões aí a rosnar que tudo vai mal, que tudo continuará mal, e que nunca houve, entre os deuses, poder capaz de melhorar isto, e que o mundo está condenado a rolar carregado de perpétuos males?
(Livro X, 35)

(…) Em suma, lembra-te disto: dentro de breve tempo, tu e os teus companheiros estareis mortos; e em breve nada de nós restará, nem sequer o nome.
(Livro IV, 6)

Não te aflijas com o futuro. Lá chegarás, se tiver de ser, levando em ti a mesma razão de que te serves agora nas questões presentes.
(Livro VII, 8)

Marco Aurélio, “Pensamentos” (século II d.c.)

Epicurismo

Junho 21, 2009

Na sequência daquela troca de ideias com o W. sobre o “fatalismo muçulmano” que é uma expressão queirosiana do século XIX e à qual o Danish é totalmente alheio e sobre o estoicismo/epicurismo e o vídeo dos Rústicos pelo Epicurismo do Gato Fedorento (Zé Carlos), apercebi-me que não sei nada sobre epicurismo e sobre estoicismo.

Fui fazer uma leiturazinha sobre epicurismo, onde encontrei, para além de uma filosofia interessante e que (tal como o estoicismo) nunca poderia competir com o cristianismo em termos de adesão da maior parte das populações que habitavam o Império Romano no início da era cristã (por razões que não interessam ao caso), encontrei três abordagens que achei indicadas para três dos nossos leitores, afectados directamente ou indirectamente por determinados problemas. Afinal, o objectivo da filosofia é precisamente esse – ajudar-nos a resolver problemas da vida prática, concreta, quotidiana. Se for para discutir abstracções, não vale a pena – e é por isso, talvez. que a filosofia clássica é mais interessante que a contemporânea. Trata, afinal, de problemas próprios da natureza humana, que sempre existiram e sempre vão existir, e portanto o melhor é arranjarmos forma de lidar com eles.

1
“Epicuro diz: «Durante a minha doença, as minhas conversas nunca versavam sobre os meus sofrimentos físicos e, com os meus visitantes, continuava o estudo das questões naturais que me ocupavam anteriormente e aplicava-me neste ponto particular: como é que a inteligência, ao mesmo tempo que sofria as repercussões destes movimentos que agitam o corpo, se conseguia manter isenta de perturbação, preocupando-se com o seu próprio bem? Não me prestava, pois, a atitudes com que os médicos pudessem pavonear o seu pretenso poder e a minha vida decorria feliz e digna.» Que estes pensamentos sejam os teus se ficares doente ou em qualquer outra conjuntura.”

2
“Enfim, a dor é imputável à nossa falta de juízo que nos não permitiu evitar as circunstâncias que conduziram a ela: «Ninguém escolhe deliberadamente o mal, mas seduzidos por ele, porque se apresenta sob a forma do bem, e perdendo de vista o mal maior que se seguirá, deixando-nos apanhar na armadilha»; o mal nasce também da maldade de ontem, vítima da ignorância.”

3
(…) “Os desejos naturais e necessários: uma alimentação sóbria, a bebida que mitiga a sede. (…) E Epicuro não deixa de notar: A riqueza que é conforme à Natureza tem limites e é fácil de encontrar, mas a imaginada pelas opiniões vãs não tem limites e é difícil de adquirir»; «a pobreza medida de acordo com as necessidades da nossa natureza é uma grande riqueza; a riqueza, pelo contrário, para quem não conhece limites, é uma grande pobreza.» Tal frugalidade torna-nos igual aos deuses: «a carne pede imperiosamente para não morrer de fome, de sede e de frio. Quem está ao abrigo das necessidades e tem a esperança de estar no futuro pode rivalizar de felicidade com Zeus.”
Esta perspectiva epicurista é espontaneamente adoptada por muitas pessoas que conheço quando confrontadas com situações de desemprego.

Ainda o apanhamos!

Maio 21, 2009

São lamentáveis essas baixas expectativas! Ainda não estás em idade de adoptar o fatalismo muçulmano do Eça…

W., em comentario ao post anterior

Ora essa?…
Mas é justamente o contrário do fatalismo muçulmano do Eça… é o estoicismo/epicurismo!…

http://www.youtube.com/v/ufAIn4xEt4c&hl=pt-br&fs=1

Vá, que ainda o apanhamos…

Filosofia Prática

Maio 21, 2009

“Se a medicação pode ajudar nos casos mais puramente psicológicos ou filosóficos, a filosofia pode proporcionar ajuda em quase todas as situações em que se está a fazer um tratamento físico ou psicológico. Mesmo nos quadros mais estritamente psiquiátricos, como aqueles em que é necessário recorrer ao tratamento com lítio, como é o caso dos maníaco-depressivos, a filosofia pode revelar-se uma boa ajuda, uma vez conseguida a estabilização do doente. Um diagnóstico destes será bem mais fácil de suportar pelas pessoas que conseguirem desenvolver uma disposição filosófica funcional a propósito da situação que têm de enfrentar. Uma das razões que tona difícil a continuação dos tratamentos com drogas – mesmo que quem as está a tomar sinta que a medicação lhe faz bem – é que a pessoa que as toma deixa de se sentir igual a si própria enquanto dura o tratamento. O que nos leva directamente à pergunta fundamental da filosofia: «Quem sou eu?» É bem provável que algumas pessoas tenham de redescobrir quem são graças a um frasco de comprimidos. O que, por sua vez, as pode levar aos tipos de questões que são o pão e a manteiga dos filósofos: «O que é que me faz ser quem sou?» e «O que é que eu sou – se sou alguma coisa – para além do corpo físico?»

Marinoff, Lou, (1999) “Mais Platão, Menos Prozac!”, Lisboa: Editorial Presença (3ª edição), p. 47

FEUC Tracking, XXI

Timor comemorou ontem o 7º ano de independência, pelo que naturalmente lá tivemos o nosso caro professor João Titterington Gomes Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, em representação do nosso país, e com a sua infalível camisa cor-de-rosa.

Estóicos

Comecei bem o dia, hoje; à meia-noite, brindei com um amigo, que desejou que para o próximo ano estivéssemos a brindar num sítio melhor. Respondi-lhe que se estivermos no mesmo sítio, será óptimo; sinal de que ambos estaremos vivos.

Sentidos das Vidas

Abril 5, 2009

“Ao mesmo tempo, parece-me apropriado caracterizar a minha sugestão (e a de Nagel) dizendo que nela se apela a razões num sentido lato. Pois a minha sugestão é que ter interesse em ter uma vida significativa é uma resposta apropriada a uma verdade fundamental, e que não o ter constitui uma incapacidade para reconhecer essa verdade.”

Susan Wolf, “Sentidos das Vidas

Razia

Março 5, 2009

“Às 13:44, hora de Lisboa, da passada segunda-feira, um asteróide (2009 DD45) que mede provavelmente cerca de 21 por 47 metros passou muito próximo da Terra, que assim escapou de uma colisão que poderia ser desastrosa. Pensa-se que este asteróide é de dimensão análoga ao que terá colidido com a Terra, na região da Sibéria, em 1908, e que provocou muitos estragos, felizmente numa região não habitada. O asteróide 2009 DD45 passou a um quinto da distância da Terra à Lua, cerca de 72 mil quilómetros. Caso este asteróide tivesse caído em Lisboa, por exemplo, toda a cidade e arredores teriam sido aniquilados em poucos segundos. O asteróide que caiu na Sibéria aniquilou 80 milhões de árvores, numa área desabitada de cerca de 2 mil quilómetros quadrados. A sua força destrutiva foi aproximadamente igual à de mil bombas de Hiroshima.

A ameaça de colisões não é negligenciável e põe as coisas na sua perspectiva. Poucos seres humanos olham para as estrelas à noite, e mesmo que o façam, não as vêem porque as luzes das grandes cidades dão-nos a ilusão de vivermos não num pequeno planeta vulnerável, mas num universo autónomo. Poucos seres humanos têm consciência de que somos uma pequena parte de um universo violento, que pode aniquilar-nos sem que possamos fazer grande coisa.” (…)

Autoria de Desidério Murcho (que já está na lista, antes que o W. e o A. perguntem), publicado no De Rerum Natura, acessível na íntegra aqui.

Da inocência

Agosto 14, 2008

Hoje, na minha viagem diária de comboio

eu agora faço o meu commuting de comboio, como alguns já saberão

uma criança fez esta pergunta á mãe:

“quem é que comprou o comboio?”

A mãe, como qualquer adulto, tratou de orientar a criança no sentido da standardização, da normalização e da aceitação bovina do mundo. Primeiro, através de um arremedo de humilhação pública: virou-se para os outros passageiros – alguns deles eram conhecidos, porque se tratava de um grupo – e perguntou se alguém sabia responder à pergunta. Depois, como ninguém respondesse – uma forma prática de mostrar à criança que isso não se pergunta – suspirou para o ar “as coisas de que a criança se lembra” e explicou que isso não interessa.

Uma vitória para José Eduardo Moniz, que está ali a conquistar uma futura audiência das suas novelas.

Eu, se não fosse um gajo normalizado, responderia: “foi o governo!” mas não respondi. Primeiro, porque também estou standardizado, e a mãe era capaz de ficar escandalizada; depois, porque achei que a pergunta não ia satisfazer a criança, porque – e é aqui que eu quero chegar – as crianças querem absorver o mundo, e só elas fazem perguntas verdadeiramente importantes. Já diz o filósofo Fernando Savater que uma criança de 4 anos é muito mais curiosa, esperta, viva e dinâmica que um estudante de 20 anos que não consegue pensar “out of the box”.

O governo, pois então. E depois? Mas qual a pessoa? Fiquei a pensar para mim: foi a CP, uma empresa que pertence ao Estado (“ao governo”, digamos.) Mas pensei também: isso não é resposta que satisfaça a criança. A CP? Porquê? Quem é a CP? Que pessoas a governam? Que pessoas fazem as compras, na CP? Onde foram comprar o comboio? Se não foi ao Continente, foi onde? Quantos comboios viram, antes de se decidirem por aquele? Quanto custou? Já agora: quem vendeu aquele comboio à CP? Como é que o vendedor e o comprador se encontraram, se não foi no Continente? Se eu quiser saber quanto custa um comboio e onde se vende, como faço? Como são e que outras coisas fazem as pessoas que vendem comboios?

Estas eram as perguntas que aquela criança de 7 ou 8 anos estava disposta a fazer, e são as perguntas a que eu não sei responder. Já sei, pelo menos, o motivo pelo qual as não sei responder – o que já não é mau. Mas a verdade é que não sei responder – mas, mais grave ainda: talvez eu não conseguisse fazer as perguntas que a criança fez.

E fazer as perguntas certas, como se sabe, é muito mais importante que encontrar as respostas certas.

Anos 80
esta música não é grande novidade, pois isto foi cantado recentemente no canal do marido da artista. Há uma série de outras músicas que, se eu as quiser no Youtube, terei de colocá-las eu porque não existem, como a “Vígaro Cá, Vígaro Lá” da Lena d’ Água.
Mas enfim, fiquemos com a pivot da TVI – ainda com a sua voz de 1981.

obrigado a justagirlnamedsue.

Faleceu Norman Mailer

Novembro 10, 2007

O escritor norte-americano tinha 84 anos e ficou conhecido pelo seu activismo de esquerda, anti-guerra do Vietname e anti-guerra do Iraque. O seu nome surge na letra da música de John Lennon “Give Peace A Chance” Não li nenhum dos seus livros.

http://www.youtube.com/v/a88JQuclF3c&rel=1

Por que motivo está a Filosofia tão afastada da realidade prática?
Talvez não seja esse o seu papel, já que segundo o mesmo autor, a Filosofiadeve deixar a compreensão do mundo físico para a Física e as outras ciências naturais, mas o afastamento da Filosofia em relação à “atitude natural da mente” começou com Descartes, o “penso, logo existo” e todo o subsequente processo que conduz à modernidade (à Idade Moderna):

“Desde Descartes, na verdade, a filosofia, ao dar já o primeiro passo, dirige-se na direcção oposta aos nossos hábitos mentais, caminha em direcção oposta à vida corrente e afasta-se dela com um movimento uniformemente acelerado, até ao ponto de que em Leibniz, em Kant, em Fichte ou em Hegel chega a ser a filosofia o mundo visto do avesso, uma magnífica doutrina antinatural que não pode entender-se sem prévia iniciação, doutrina de iniciados, sabedoria secreta, esoterismo. O pensamento engoliu o mundo: as coisas tornaram-se meras ideias (…) a cultura vigente caminha ainda nesse sentido e não tem havido maneira de sair dele com honestidade intelectual. Os que o tentaram não saíram dele: simplesmente se atiraram pela janela e partiram a cabeça…”
Ortega y Gasset, “O Que É A Filosofia” (1929-30)

Ich bin ein berliner – 18 anos
Assinalaram-se ontem 18 anos sobre a queda do muro de Berlim, e gostaria de perguntar aos bloggers e leitores que recordações têm desse momento, se é que têm algumas.

AAC – 120 anos
De forma imperdoável, o Blogue da SARIP deixou passar em branco o 120º aniversário da AAC, no passado dia 3 de Novembro. Naturalmente, delegamos no nosso ilustre co-blogger, com o seu vasto currículo em cargos de gestão à frente da Associação, a responsabilidade de o assinalar. Berto, a ti a palavra.

Um problema filosófico

Novembro 8, 2007

Terça-feira, 23 de Outubro de 2007
QUEM É MAIS ATEU?

A superfície dá um tipo de resposta. A profundidade oferece outro.

Quem é mais ateu? O descrente que se assume? Ou o crente que se presume?

Não será que o ateísmo dos ateus, no fundo, é mais uma denúncia de muitos crentes em Deus do que uma negação do Deus dos crentes?

A leitura dos livros de Richard Dawkins e Michel Onfray tem-me feito pensar deveras e interrogar bastante.

Quando se contesta a presença pública da fé será que há um incómodo perante Deus ou um desencanto diante do contra-testemunho dos crentes?

E, desse modo, não poderá ser o ateísmo uma busca de autenticidade? Não poderão estar, portanto, muitos ateus mais próximos de Deus?

Não serão as suas perguntas mais consistentes que as nossas respostas?

publicado por um amigo em Cristo, ao vosso dispor às 12:01

And now, something completely different, as usual
http://www.youtube.com/v/wZiIOcvcxqg&rel=1