Da varanda

“O spa é uma espécie de estância de férias destinada a emagrecimentos, ginástica, corrida saudável, meditação, reflexão, sono e limpeza de pele ou do corpo. (…) No spa não se podem usar telemóveis, aprendem-se coisas de ioga, bebe-se sumo de cenoura e faz-se ginástica. Confesso que é mais violento do que ir para a vetusta mata do Vidago Palace, tanto mais que os passeios sob a generosa sombra dos plátanos ou dos pinheiros (…) são substituídos por caminhadas esgotantes destinadas a perder líquidos, gorduras, toxinas e outras substâncias nocivas á vida. Vai-se para um spa tendo em vista conservar o corpo – é isso que eu depreendo.
Perguntei, timidamente, se isso tinham sido as suas férias. Que sim. férias relaxantes e saudáveis, como teve o cuidado de acrescentar, com comida vigiada pelo olhar astuto de dietistas experimentados, eternidade garantida pelos sacerdotes da nova religião, o «corpo saudável» – mas, mais do que isso, o «corpo esbelto». (…) A parte saudável e esbelta da minha família é estóica e corajosa, frequentando os spa do nosso mundo, cuidando do corpo e ignorando (ou esquecendo) aqueles momentos de barbárie em que o sol descia sobre a terra, as sombas das latadas de Ponte de Lima pareciam apenas sombras minhotas e crepusculares, havia sestas depois do almoço (…)

António Sousa Homem, in “Os Ricos Andam Tolos – Crónicas de um Reaccionário Minhoto (2002)


António Sousa Homem nasceu em 1920, teve a advocacia como profissão e escreve, há longos anos, crónicas regulares e únicas, no tom, no estilo e nas ideias, para vários jornais.

A tarde está assim, pachorrenta e bárbara. Estamos próximos do equinócio e da mudança da hora.

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