Epicurismo

Na sequência daquela troca de ideias com o W. sobre o “fatalismo muçulmano” que é uma expressão queirosiana do século XIX e à qual o Danish é totalmente alheio e sobre o estoicismo/epicurismo e o vídeo dos Rústicos pelo Epicurismo do Gato Fedorento (Zé Carlos), apercebi-me que não sei nada sobre epicurismo e sobre estoicismo.

Fui fazer uma leiturazinha sobre epicurismo, onde encontrei, para além de uma filosofia interessante e que (tal como o estoicismo) nunca poderia competir com o cristianismo em termos de adesão da maior parte das populações que habitavam o Império Romano no início da era cristã (por razões que não interessam ao caso), encontrei três abordagens que achei indicadas para três dos nossos leitores, afectados directamente ou indirectamente por determinados problemas. Afinal, o objectivo da filosofia é precisamente esse – ajudar-nos a resolver problemas da vida prática, concreta, quotidiana. Se for para discutir abstracções, não vale a pena – e é por isso, talvez. que a filosofia clássica é mais interessante que a contemporânea. Trata, afinal, de problemas próprios da natureza humana, que sempre existiram e sempre vão existir, e portanto o melhor é arranjarmos forma de lidar com eles.

1
“Epicuro diz: «Durante a minha doença, as minhas conversas nunca versavam sobre os meus sofrimentos físicos e, com os meus visitantes, continuava o estudo das questões naturais que me ocupavam anteriormente e aplicava-me neste ponto particular: como é que a inteligência, ao mesmo tempo que sofria as repercussões destes movimentos que agitam o corpo, se conseguia manter isenta de perturbação, preocupando-se com o seu próprio bem? Não me prestava, pois, a atitudes com que os médicos pudessem pavonear o seu pretenso poder e a minha vida decorria feliz e digna.» Que estes pensamentos sejam os teus se ficares doente ou em qualquer outra conjuntura.”

2
“Enfim, a dor é imputável à nossa falta de juízo que nos não permitiu evitar as circunstâncias que conduziram a ela: «Ninguém escolhe deliberadamente o mal, mas seduzidos por ele, porque se apresenta sob a forma do bem, e perdendo de vista o mal maior que se seguirá, deixando-nos apanhar na armadilha»; o mal nasce também da maldade de ontem, vítima da ignorância.”

3
(…) “Os desejos naturais e necessários: uma alimentação sóbria, a bebida que mitiga a sede. (…) E Epicuro não deixa de notar: A riqueza que é conforme à Natureza tem limites e é fácil de encontrar, mas a imaginada pelas opiniões vãs não tem limites e é difícil de adquirir»; «a pobreza medida de acordo com as necessidades da nossa natureza é uma grande riqueza; a riqueza, pelo contrário, para quem não conhece limites, é uma grande pobreza.» Tal frugalidade torna-nos igual aos deuses: «a carne pede imperiosamente para não morrer de fome, de sede e de frio. Quem está ao abrigo das necessidades e tem a esperança de estar no futuro pode rivalizar de felicidade com Zeus.”
Esta perspectiva epicurista é espontaneamente adoptada por muitas pessoas que conheço quando confrontadas com situações de desemprego.

Uma resposta to “Epicurismo”

  1. Anonymous Says:

    eu acuso me

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