Europa
Políticos e comentadores de todos os quadrantes desdobram-se em comentários sobre o Não francês. Desde a decepção de Sampaio, a vitória do ideal europeu segundo Louçã, o remake suicidário de 1940 segundo Eduardo Lourenço, o “Dói? Pois dói” de Pulido Valente, a serenidade do Presidente da Comissão que diz que há-de haver uma solução, ou não se chame ele Durão. Mas, afinal, o que significa o Não francês para a construção da Europa?
– chegámos àquela fronteira que todos sabíamos existir mas ninguém sabia onde estava: não é possível federalizar mais a União. As identidades nacionais impuseram um limite. A não ser que o Tratado Constitucional fosse apenas um pequeno passo à frente em relação a Nice, longe ainda de federalismos profundos. (Sinceramente, não sei se é ou não.) Nesse caso,
– o grande problema é a crise económica e o voto francês não significa rigorosamente nada em termos europeus.
Sejamos sérios. O projecto europeu conseguiu grandes feitos nos últimos cinquenta anos. Mas tem dificuldades em imaginar novos rumos, e encontra-se num beco sem saída. Só assim se explica que o Tratado tenha 20 significados para 20 quadrantes políticos diferentes, e que os políticos gaguejem e digam que “pá, há-de haver uma solução, não sei é qual, nem para quando.” Calma; as opiniões públicas não rejeitam o que se conseguiu, mas os tempos são de crise e pouco propícios a novas aventuras. Sinceramente, não ficarei muito preocupado se o projecto europeu estagnar por algum tempo. Não é por isso que voltamos à Cortina de Ferro, à linha Maginot ou ao Orgulhosamente Sós.
Amanhã, a Holanda vai votar Não por uma questão concreta que os preocupa, deixando o ideal abstracto e nebuloso da União do futuro para mais tarde. No meio dos imigrantes há demasiados criminosos – pior ainda, os holandeses sentem-se estrangeiros no seu país, o que significa que se atingiu um limite. Se a sociedade mais liberal se está a retrair é porque algo de muito grave se passa. Mais que às parvoíces e bizarrias de um país que se julga o centro do mundo e já deu o que tinha a dar, é aos pragmáticos laranjinhas que a Europa devia dar atenção.
Assexualidade
Nos dias de hoje, todos pensamos que já vimos de tudo e que não há nada que nos possa surpreender. Mas, talvez haja…