eu sou o autêntico Júlio Isidro da política. Não só lancei o presidente da JS/Açores, como ensinei ao ex-primeiro-ministro o que ele havia de dizer às pessoas.
Ainda Paulo Geraldo
Foi consultar a internet sobre o tal estudo referido por Paulo Geraldo na sua segunda aparição neste blogue. O estudo chama-se “Marriage-lite: The rise of coabitation and its consequences” de Patricia Morgan.
Não li o livro, mas consultei duas análises relativamente completas do mesmo, que estão aqui e aqui.
São apresentados muitos números que mostram uma correlação entre a coabitação e toda a espécie de situações gravosas: separações, violência, alcoolismo, desemprego, menos empenho em termos profissionais. Faz inclusivamente algo que eu exigi anteriormente a Paulo Geraldo: afirma que os coabitantes se separam têm menos probabilidades de, no futuro, terem relacionamentos duradouros.
Os números são bastantes impressionantes, mas há um outro pormenor que também impressiona: a quase ausência de explicações para os dados encontrados.
As análises enumeram os dados encontrados, baseados em grande medida numa correlação entre a coabitação e tudo quanto é mau, e no fim enunciam os riscos e os perigos da coabitação. No entanto, ficamos sem saber os motivos que levam a existência dessa correlação.
“From the many surveys that have been conducted, cohabitations are not a helpful way to parenthood. They are not a helpful preparation for marriage, and do nothing to strengthen marriage. Frequently they are associated with increased risk of marital breakdown. Contrary to public belief they are a major cause of the rise in numbers of people ultimately living alone.”
Mas porquê?
Uma hipótese: ao longo dos 20 anos que o estudo durou, o casamento é a instituição dominante e socialmente aceite; logo, a coabitação só se verifica nos estratos mais instáveis da sociedade, onde há problemas de desemprego, analfabetismo, exclusão social, marginalidade, etc, ou seja, onde há todas as condições para vidas instáveis e menos produtivas, e onde portanto há menos estabilidade e menos condições para o casamento.
O estudo não indica dados sobre a profissão dos coabitantes, rendimentos, escolaridade, participação social, etc. Só diz que a coabitação está associada a instabilidade. Para mim não chega – especialmente porque há fortes indícios (alcoolismo, menos commitment, desemprego, etc) de que a coabitação avaliada e medida neste estudo esteja associada a situações de exclusão social.
Além disto, há a questão da regulação do conflito. Se entendermos o divórcio como uma solução para um problema, não vemos o divórcio ou a separação como uma coisa má em si própria. É natural que, numa sociedade que favorece a regulação do conflito por outros meios, o divórcio suceda – a questão era precisamente encontrar uma solução para o conflito.
No fim, temos o seguinte: “marriage takes place as a public act befor family and friends. it involves depth of commitment on the part of two people and the promiseto love and care for each other for life. It envolves constraints, but constraints are part of the creation of a “secure and predictable environment to ehich real and durable choices may take place. When we lose the constraints we lose the choice: we lose a species of liberty and the guarantees the unique and productive environment that marriage can create. Marriage offers stability, security and a lasting happiness, which these who cohabit desire but cannot obtain.”
Isto é tudo verdade, e eu próprio partilho da intenção de ter um ambiente seguro e previsível – faz parte do conceito de qualidade de vida.
Mas “seguro e previsível” é algo que a sociedade actual não tem sido. Há um choque cultural de gerações, por motivos sociais, culturais e tecnológicos. Há um número crescente de pessoas a viver sozinhas nas grandes cidades, perseguindo o emprego. As transformações são rápidas e súbitas. Os constrangimentos referidos são mais próprios de ambientes socialmente mais coesos ou onde existem regras mais rígidas – menos típicos de sociedades em transformação acelerada. (Os constrangimentos são necessários porque o Amor é uma coisa, não é?…)
Marriage offers stability, security and a lasting happiness – aqui voltamos mesmo ao início. Se duas pessoas construírem este nível de empenho e perseguirem o mesmo ideal, porque há de ser a mera ou inicial coabitação um estorvo?
(Se, como diz uma entrevistada num desses estudos, a coabitação foi uma desculpa para o namorado levar vida de solteiro, e que a única vantagem da coabitação era poder deixá-lo que era tud o que ela não queria, o melhor que ela faz é deixá-lo. Tal indivíduo provavelmente não seria grande marido.)
No fundo, é isto que está, talvez, mais em causa. A sociedade precisa que as pessoas não sejam inteiramente egoístas, de modo a assegurar o melhor ambiente para que o futuro – as crianças – possam crescer.
Contudo, o que está em causa é a atitude e o empenho. Só está directamente relacionado com o casamento por motivos sociológicos. Em lugar de louvar o casamento, todos deveríamos louvar os verdadeiros valores: a atitude, o empenho. Se o egoísmo é moda, em breve poderá deixar de o ser, pois eu acredito que o “instinto” natural da grande maioria das pessoas vai para a reprodução. E relembrar um facto simples: AS INSTITUIÇÕES NÃO SÃO ETERNAS, E É PREFERÍVEL DESTRUIR UMA INSTITUIÇÃO NOCIVA A CONSERVÁ-LA. Não vou repetir que o casamento não é garante suficiente para que os valores existam, estou farto de o dizer.
Falta saber, de facto, se a coabitação era uma instituição social largamente aceite e reconhecida por todos os estratos da sociedade ou se estava reservada a uma situação de clandestinidade associada à exclusão social.
Picassinos, cemitério de blogues