Archive for Agosto, 2005

Agosto 30, 2005

A soneca
“Os socialistas da Marinha Grande ficam num gozo danado sempre que o candidato da CDU, João Barros Duarte, adormece em público. E dizem que isso é a prova de que o homem já não se aguenta. Os apoiantes da CDU não estão pelos ajustes e perante estas “bocas” demolidoras, lembram que o candidato do PS à Presidência da República, Mário Soares, é mundialmente conhecido por ser, justamente, um grande dorminhoco em cerimónias públicas. Resultado: só falta saber qual é o que mais ressona.”
in Região de Leiria

Agosto 29, 2005

O Grande Regresso
O regresso do Reinold a Portugal merecia, naturalmente, uma celebração especial, que o próprio Reinold ofereceu no Valado dos Frades, e que permitiu o reencontro dos quatro membros da SARIP agora presentes em Portugal Continental. Era suposto o Gilberto estar também presente, mas, ao que parece, está em Coimbra a estudar (?!?). Esta fez-me lembrar quando ele se esquivou à participação no torneio de futsal da FEUC com a desculpa tola de que “o cerco [dos exames] se estava a apertar.” Desta vez, o cerco está de tal forma apertado que o estudante vai para Coimbra em pleno Agosto…
Um reencontro é sempre um reencontro. Evocações do passado, construção e composição do presente, evocação do futuro (que mais não é que um passado que ainda não aconteceu.) A grande diferença que encontrámos foi a ausência do Rocky e da Sheila. A D. Jeannette também não achou nenhuma diferença em mim – apenas que eu tinha o cabelo mais curto.
Após um excelente e tranquilo jantar, com muitas evocações norte-americanas, bancárias, e de constituição futura de empresas de consultoria pelo meio, ficámos a ver um espectáculo futebolístico pobre no qual o Gil Vicente acabou por ser o mais eficaz (com muita sorte pelo meio) enquanto os adeptos do Benfica desesperaram ao ver as imensas fragilidades da sua equipa. Quando essa desgraça terminou, rumámos á Naza onde fizemos uma pequena romaria aos bares, aproveitando a maresia, e terminando no célebre Barra Bar, que contava com a presença de Fernando Alvim que inevitavelmente pôs a tocar o Dartacão. Contudo, foi mais o tempo que estivemos pacificamente à mesa a emborcar Red Bull que a dançar. Esperemos ter mais algumas oportunidades como esta.
Já quase me esquecia que encontrámos a Mónica, colega de curso, no que constituiu mais um pequeno reencontro a somar ao nosso.

Lido
“Há trinta anos que a emigração maciça para as cidades e o abandono geral da agricultura anunciava o espectáculo a que hoje em dia assistimos.”
Vasco Pulido Valente

“Queiramos ou não, foram estes dois senhores [Soares e Cavaco] que moldaram o Portugal em que vivemos. Quem estiver satisfeito pode votar neles.”
Manuel João Vieira

Brinca-Na-Areia
“Marcelo Rebelo de Sousa comporta-se no campo da análise política como alguns jogadores brasileiros no campo de futebol. Fintam até à grande área, esquecem frequentemente a baliza e voltam atrás para fintar os mesmos adversários. É raro fazerem uma jogada que termine em golo. Na gíria futebolística, são os brinca-na-areia.
(…) Na análise televisiva, primeiro na TVI e agora na RTP, o efeito brinca-na-areia é ainda mais notório. Sem adversário, Marcelo entretém-se a criar factos políticos de fino recorte e, quando não sabe, intui. Cada vez que o professor se aventura por matérias mais ou menos especializadas – como sejam a economia, a política internacional, a União Europeia e outras – quem sabe dessas áreas descobre deslizes, incoerências, (…) pura ignorância. (…) Se Marcelo comentasse Marcelo, há muito que tinha lançado a confusão: “Ele vai ser candidato presidencial.” Não se percebe, aliás, porque não avança. Os barómetros mostram que é o político mais popular, julga saber na perfeição o que deve ser um Presidente da República e tem essa ambição. Vá a jogo, professor Marcelo.”
Paulo Baldaia, Diário de Notícias (27/08/05)
Não sei se Marcelo Rebelo de Sousa seria ou não um bom Presidente da República. Mas que poderia ser um candidato credível, não tenho dúvidas. Marcelo não tem cadastro e, mais importante que isso, “fala muito bem.” Acreditem que uma percentagem significativa da população portuguesa votaria nele.

Mas estavam à espera de quê? Que ele falasse??!?
“…enquanto [Cajuda, treinador da Naval] tem o coração ao pé da boca, incentiva os jogadores junto da linha, o holandês, [Co Adriaanse, treinador do Porto] um dos caloiros da prova, tem uma posição mais científica. Sentado, silencioso, à espera que a enxurrada de futebol ofensivo dê resultados.”
DN, 27/08/05

Agosto 27, 2005

Os problemas sazonais
Já sabemos que em Portugal há prioridades estranhas dadas ao investimento e ao ordenamento do território, de que resultam calamidades públicas em larga escala. Na época sazonal em que a crise aperta, todos gritam por Santa Bárbara e acusam-se os governos e as populações que não fizeram nada o resto do ano; quando a crise passa, não se fala mais no assunto.
É por isso que venho aqui fazer um apelo desesperado:
Não é de estranhar que, após um período prolongado de seca, possamos vir a ter um Inverno excepcionalmente chuvoso. Por isso, senhores governantes, tenham atenção às pontes dos nossos rios e façam andar todas as obras de reparação necessárias. Esta é a hora de tratar disso. Quando os rios estiverem cheios de água e lamentarmos os mortos, será demasiado tarde! E não adianta pedir às populações que cortem o mato à volta das pontes, isso não impede que elas caiam!

(Os Açores é que têm sorte. Não há fogos, as pontes não caem… têm é crises sísmicas com alguma frequência, que nós aqui no Continente não temos. Se calhar é por causa dessas crises sísmicas que os açorianos têm alguma pancada, no bom sentido. Um abraço para vocês e esperemos que o alívio das tensões na placa terrestre sirva para evitar sismos de grandes dimensões.)

Notícias da Fórmula 1 – O choque
O atraso deve-se ao facto de eu, além de só ter visto as voltas iniciais do Grande Prémio da Turquia, ter ficado chocado com o pouco que vi.
Da vitória de Raikkonen há pouco a dizer, desde o GP S. Marino (e com excepção do Canadá) que a McLaren-Mercedes tem sempre o carro mais rápido em pista. Do acidente entre Montoya e Monteiro também há pouco a dizer (a mim também já me aconteceu ficar sem apoio aerodinâmico em travagem, em jogos de computador.)
O que me chocou foi a manobra da Renault à 2ª volta, quando a classificação era 1º Kimi, 2º Fisichella, 3º Alonso. Fisichella tinha largado muito bem, mas cometeu um erro e deixou-se ultrapassar ainda na primeira volta, o que permitiu à audiência mundial de Fórmula 1 ver aquilo que não queria ver: uma descarada ordem de equipa, com o italiano a abrir para o espanhol passar.
No GP do Canadá, quando Fisichella era 1º e Alonso o 2º, a equipa não deu ordens ao piloto romano. Talvez por o campeonato ir ainda numa fase pouco adiantada…
A partir de agora não temos mais dúvidas. De resto, o meu estudo incompleto sobre História da Fórmula 1 mostrava que a Ferrari não havia sido a única a impor disciplina, mas de qualquer forma é sempre triste constatarmos que um bom piloto como Fisichella e um bom carro como o seu Renault R25 não vão poder ser vistos a dar o seu melhor, se as circunstâncias o impedirem. (Além de que se justificam a partir de agora todas as suspeitas existentes sobre os estranhos problemas mecânicos que afectaram o italiano ao longo de toda a época.)
O próximo GP é na Catedral de Monza, onde se espera que a Ferrari e a Bridgestone evitem as tristes figuras que têm feito.

Apanhámo-lo!!!
“Durante varios anos dei algumas aulas sobre nacionalismo. O programa era estruturado ah volta de uma santissima trindade – Gellner, Anthony D. Smith e Benedict Anderson – e eu procurava transmitir algum entusiasmo aos estudantes por via dos textos que eram realmente bons. (O materialismo do Gellner continua a ser um pilar na minha forma de perceber o mundo, e nao apenas na questao do nacionalismo). No entanto, a materia nunca me entusiasmou verdadeiramente. Duvido que alguma vez tenha sequer percebido cabalmente a questao que estavamos a tratar (…)
Se eu fosse um jornalista manhoso, deixava estar esta citação tal como está. Mas prefiro fazer disto um exemplo de como se faz bom jornalismo sem ética. A frase do Ivan está fora de contexto, e se a deixasse assim ia deturpar intencionalmente o que ele quis dizer. Ele fala dos problemas de nacionalismo na Estónia, entre estónios e russos (o homem farta-se de viajar) e mais à frente ele diz que sempre esteve dentro dos textos e que o que lhe faltava era conhecimento prático, porque a questão do nacionalismo está muito viva naquele país.

www.micronations.net
Este é um bom site para todos aqueles que sonham ter o seu próprio país. Falta aqui a experiência independentista da ilha do Baleal (Peniche), na década de 70.

Um palpite
“É alicerçado nestes pressupostos que me proponho debruçar sobre a chamada rotina sexual, sem deixar de relembrar que a continuidade do amor ou do casamento depende de três condições essenciais: simetria de papéis (ou seja, uma relação igualitária), grande intimidade e a criação e desenvolvimento dum património erótico.”
Francisco Allen Gomes, Paixão, Amor e Sexo (2001)

Agosto 26, 2005


Nova Moda Millennium BCP?!
Está visto! Os chineses vieram mesmo pa ficar!Agora até tomam conta dos bancos!!Esta foto foi tirada em Espinho 🙂

Agosto 23, 2005

“Falar em manter a paz através do equilibrio de poderes ou através da ameaça de agressões é tonto. O poder dos armamentos só pode produzir o medo, não a paz. Não é possivel haver paz genuina e duradoura através do medo. Do medo só pode advir aversão, inimizade, hostilidade, talvez reprimidas no momento mas prontas a irromper e a tornar-se violentas á primeira oportunidade. A verdadeira e a genuína paz só pode prevalecer numa atmosfera de amizade, liberta de medo, da suspeição e do perigo.
O Budismo aspira à criação de uma sociedade em que se renuncie à luta ruinosa pelo poder, em que a serenidade e a paz prevaleçam, ao invés de conquistas e derrotas, em que a perseguição do inocente seja veementemente denunciada, em que aquele que se conquista a si proprio seja mais respeitado que aquele que conquista milhões pela guerra militar ou económica, em que o ódio seja vencido pela amabilidade e o mal pela bondade, em que a inimizade, inveja, e cobiça não infectem as mentes dos homens, em que a compaixão seja aforça motriz da acção, em que todos, incluindo a menor das coisas vivas, sejam tratados com correcção, consideração e amor, em que a vida em paz e harmonia, num mundo materialmente satisfeito, seja orientada para o desiderato mais elevado e nobre, a realização da verdade unica, Nirvana.”

Walpola Rahula, in O Ensinamento de BUDA

Agosto 23, 2005

THE WEDDING – parte 2

O dia do casamento é um dia de festa – deve ser por isso que o stress domina os corações e as mentes, e conflitos e discussões saltam à menor faísca. Acaba por não ser festa nenhuma, mas sim um dia cansativo que queremos ver rapidamente terminado.
Começa com o pequeno-almoço em casa do pai da noiva, onde convém encher a barriga já que o almoço não vai ser propriamente à hora do almoço, e onde os convidados começam a ver os primeiros desconhecidos, que são a grande maioria dos “outros.” A comparação das indumentárias começa imediatamente – com destaque especial para as mulheres (alvo dos babosos olhares masculinos e dos avaliadores e maledicentes olhares femininos), nem que se trate de irmãs – ou especialmente se se tratar de irmãs, já que “competem” mais proximamente. O sol queima e a malta de fato e gravata procura uma sombra. Tiram-se umas primeiras fotografias – mas não convém demorar muito senão perdem-se os melhores lugares na igreja
Cerimónia – Ao contrário dos casamentos da minha infância, nos modernos dispensa-se o tradicional “órgão”/piano/teclado e a Marcha Nupcial. A música esteve a cargo de alguns amigos dos noivos, equipados com guitarra e cavaquinho (a fazer lembrar os coros de escuteiros, ou os dos grupos de jovens que recentemente viajaram até à Alemanha ao encontro do Papa Bento XVI) e de um violinista contratado para o efeito (que só actuou mais para o fim.) A entrada do noivo foi ao som de “I Want To Break Free”, dos Queen. Aos leitores que acharem estranho que um noivo escolha esta música para o seu casamento, direi que estão contaminados pela propaganda actual que encara o casamento como uma gaiola; pelo contrário, é no casamento que o noivo exerce a sua liberdade – e se que se liberta dos pais. A noiva entrou ao som de uma música francesa que desconheço.
O senhor padre fez uma homilia curta e sem muita palha. Falou na igreja como uma casa de paz (fazendo uma curiosa referência aos colonos judeus que se refugiaram nas sinagogas de Gaza para, supostamente, evitarem a expulsão) e exortou os presentes a esquecerem desavenças e saírem dali com a harmonia nos corações. Foi-me mais tarde explicado que era uma indirecta para alguns problemas entre as famílias dos noivos. Entretanto, elogiou as qualidades paroquianas dos noivos (cristãos participativos) e passou rapidamente à sagração do matrimónio, elemento central da cerimónia – que acabou por não se revelar muito longa.
Longos foram os cumprimentos finais dos noivos a todos os presentes e mais uma sessão de fotografias – desta vez com o altar como pano de fundo. Quando saí para a rua, vi o início de uma coluna de fumo ao longe – começara mais um incêndio no concelho de Ourém.
Por volta das 14:30, os carros seguiram ordeiramente para a quinta onde seria servido o almoço. Os noivos foram num camião coberto com ramos e verduras, que me trouxe imediatamente à ideia o Cortejo da Queima das Fitas.
A Quinta – Mais umas quantas fotografias no jardim, mais um pouco de confusão e anarquia – por volta das 16h comecei a debicar a entrada de melão com presunto.
O banquete não foi assim tão demorado, já que por volta das 18:30 tínhamos acabado de almoçar – sopa, peixe, carne, fruta, sobremesa, e o café servido já na rua. O céu estava já coberto por uma espessa camada de fumo e o cheiro era intenso… esperto foi aquele miúdo que trouxe uns calções e, em vez de atolar de comida, foi nadar para a piscina da quinta…
O jantar foi bem melhor, já que foi servido em self-service e portanto todos acabaram de comer muito mais depressa e foi possível vir para a rua tomar uma bebida e observar os morcegos, a lua alaranjada devido ao fumo e os indivíduos que já tinham bebido de mais. Apesar de tudo, os casamentos são verdadeiramente bons é para as crianças que podem correr e brincar. Ou para quem gosta de dançar ao som de música tradicional portuguesa, ou valsa, ou tango. Quando os DJ’s atacarem este mercado, e o bailarico tiver House, Hip-Hop, Techno, etc., etc., as coisas serão radicalmente diferentes – e aí veremos se é a juventude que fica parada a olhar.
O Domingo foi mais um banquete, mais uma insuportável sensação de enfartamento (apesar de tudo, é difícil resistir a comer mais um doce ou mais umas uvas) e uma certa sensação de niilismo, da “náusea” de Jean-Paul Sartre, de que nada vale a pena. Felizmente que pude jogar um pouco de Playstation e, assim, regressar um pouco à vida.
Conclusões a retirar?
– espero sinceramente que os noivos sejam muito felizes;
– sinto, e não só eu, um imenso alívio por este frete ter terminado;
– se eu vier a estar no centro de uma cerimónia deste género, há de ser com bastante simplicidade;
– E estou um pouco fatigué de parler un demi em português e un autre demi en français, precisava de ir para Albufeira 2 ou 3 dias para esquecer… ou pelo menos ficar umas 7 ou 8 horas seguidas a ver a Sky News ou a CNN.

Agosto 19, 2005

O que ninguém quer ver, enquanto se reclama o regresso de Salazar para queimar os incendiários
“Basta conhecer um pouco a realidade rural, aquilo que ela era ainda há 50 anos e aquilo em que hoje está transformada, para se concluir que o fogo é, por assim dizer, o seu inexorável destino. Primeiro, foi a plantação sem critério de enormes extensões de pinheiro e eucalipto. Depois, veio a desertificação dos campos e das povoações do interior, a que se somou nova leva de pinheiros e eucaliptos. De então para cá, perdeu-se por completo a noção de que viver no campo, explorar a terra e lidar com a natureza exigem todo um saber e um conjunto de regras a que durante milénios se obedeceu. Nas cidades, a ignorância sobre tal assunto é completa. Nos campos, não se vê gente ou, pior ainda, há gente de passagem, que não faz ideia daquilo que deve e, sobretudo, do que não deve fazer. Por isso, os fogos eram antigamente acidentais e, hoje em dia, estão a tornar-se uma rotina estival.” (…) Podem-se acumular explicações de circunstância, descobrir interesses organizados e escondidos, denunciar pirómanos (…) Como explicação do que está em jogo, é puro fait-divers.”
Diogo Pires Aurélio, Rotina Estival (Diário Notícias, 14 Agosto 2005)

Nasci numa zona rural onde a maioria da população deixara, poucos anos antes, de viver da terra, limitando-se a cultivá-la como hobbie, e cada vez menos. Faço parte de uma geração de hábitos urbanos que mal sabe distinguir uma enxada de uma gadanha, quanto mais compreender verdadeiramente as implicações da vida agrícola. Em todos os verões da minha infância havia incêndios por todo o país, que a televisão pública mostrava antes de existirem a SIC e a TVI. Tenho perfeita memória dos incêndios que assolaram a Serra dos Candeeiros (sem contudo ameaçarem as localidades) e cujas consequências hoje se vêem com facilidade. Sou potencial herdeiro de parcelas de floresta que não sei bem onde ficam, às quais os donos actuais vão de 5 em 5 anos cortar umas árvores para lenha.
É assim tão difícil acreditar no argumento de D. P. Aurélio? É preciso continuar a culpar os incendiários e a falta de meios dos heróis nacionais? É PRECISO CONTINUAR A ACREDITAR QUE, SE O SALAZAR VOLTASSE, IA ELE LIMPAR AS MATAS, DEITAR ABAIXO OS PINHEIROS E EUCALIPTOS E PLANTAR SOBREIROS E CASTANHEIROS E MANTER LINHAS DE CORTA-FOGO? (para além de prender os incendiários, claro)?

THE WEDDING
Como todos sabemos, o Verão e em especial o “meu lindo Agosto” é um tempo privilegiado para os grandes casamentos. Como vou participar num, partilharei as minhas impressões com os leitores deste blog.

O Emigrante – Já se sabe que o regresso em força dos emigrantes para férias condiciona a marcação da data do casamento. Com irmãos, primos e sobrinhos, algumas famílias podem ver o seu número aumentado para o dobro.
O emigrante traz consigo algumas tensões. Em primeiro lugar, linguísticas. Muitos dos que vêm de férias nasceram ou viveram a maior parte da sua vida no estrangeiro, o que faz das reuniões de família uma cena bilingue. Quem entende as duas línguas, está à vontade; quem só entende o português, pode passar por alguns momentos aborrecidos. É possível, por exemplo, ver o noivo a reclamar com a noiva (nascida no estrangeiro) por estar a falar com a irmã no idioma estrangeiro, estando ele sentado entre ambas e a ver passar navios. Contudo, o grau de utilização da língua é muito variado; há os que falam bom português mas com sotaque; os que falam sem sotaque mas recorrem várias vezes ao idioma estrangeiro; os antigos emigrantes, há muito re-estabelecidos no nosso país, que “re-descobrem” a outra língua; os que não conseguem dizer duas frases em português (péssimo) sem recorrer a uma palavra ou entoação estrangeira, etc. Mais raros são aqueles que estudaram o idioma na escola e percebem boa parte das conversas (desde que não falem muito depressa) e que aproveitam para treinar uma língua esquecida no resto do ano. (É o meu caso.)
O uso da língua estrangeira nestes encontros não é necessariamente uma opção arrogante ou vaidosa, mas apenas um hábito normal – cada um expressa-se conforme lhe é mais fácil. Nota-se, nas pessoas que só usam a outra língua em Agosto, uma satisfação óbvia em poderem falar uma língua que se tornou materna. (E além disso, não é verdade que o Reinold e a irmã falam habitualmente em português um com o outro?)
Além disso, entre os “emigras” há os mais simpáticos, os mais cagões, os mais arrogantes, os mais manientos. A língua não é factor determinante, mas sim o dinheiro.
L’ argent – As clivagens socio-económicas entre os membros da família podem provocar alguns choques. Em alguns casos, a “competição” mede-se através dos grandes jantares de família.
Neste último mês já fui a três jantares de família dignos dos banquetes da aldeia do Astérix. (E faltei a um almoço.) Aperitivos, entradas, dois pratos, fruta, sobremesa, café – é possível estar mais de três horas à mesa. A minha longa adaptação a este cenário foi complicada, mas hoje estou perfeitamente adaptado e consigo comer sem parar, ou, como diz o Gilberto, “até rebentar.” Sem esquecer o vinho – e o meu “treino” académico foi essencial para evitar más figuras neste campo (reservadas a quem tem estatuto compatível com elas, nomeadamente a geração anterior.) É verdade que a família tem dificuldades em fazer algo em conjunto sem ser estar à mesa, mas isso não é importante. Há é que rir, beber e comer!
Porsche – as clivagens sócio-económicas têm algumas vantagens. Já posso dizer que andei num Porsche 911. Não conduzi, claro; e também é verdade que não é um último modelo (tem mais de 10 anos); mas estar sentado em “cima” de um motor de 300 cavalos, e sentir a incrível força de uma 3ª velocidade em desenvolvimento (pena não ter chegado a uma auto-estrada…) é uma experiência inesquecível. Ça va très bien!
La maison – A semana final antes do casamento é, como sempre, de um tal stress para os noivos que me assusta pensar em fazer tudo de uma só vez. Trazer “tralha” de casa dos pais, limpar, instalar luzes, equipamento áudio-visual, receber os 10 operários especializados diferentes (cozinha, canalização, etc.) que vêm retocar os pormenores, etc., etc., etc., sem contar com as burocracias da festa propriamente dita. Todas as ajudas são importantes (mesmo as dos que ficam sem nada para fazer muito rapidamente.)
Graças a isso, acrescentei um veículo automóvel à minha experiência de condução. Já conduzi um Ford Fiesta, um Peugeot 205, o Renault Clio da instrução, etc., e como alguns leitores constataram pessoalmente, o melhor carro que conduzi até hoje foi o Toyota Carina do Batinas, tendo sido também a única vez que transportei um passageiro no porta-bagagens. Agora, tive a oportunidade de conduzir e manobrar uma camioneta de carga Volskwagen de 1989. Não é tão difícil como parece; basta ter alguma atenção aos espelhos (o ângulo de viragem tem de ser maior). De resto, o travão de mão é à esquerda, a marcha-atrás é à frente e a 1ª é para trás, mas o ponto de embraiagem é muito fácil de encontrar, e a partir daí torna-se simples. Embora, claro, eu me tenha sentido como se estivesse a conduzir um tanque.

(continua)

Agosto 16, 2005

Vila Cova à Coelheira
Antes de mais nada, um voto especial de solidariedade aos habitantes da célebre aldeia do distrito de Viseu de onde é originária a nossa amiga Ângela Costa, duramente castigados pelos incêndios que varrem o país.

Portugal-Espanha
Vi o Portugal-Suíça e fiquei muito assustado. Ao intervalo estava 0-0 e só a custo os portugueses conseguiram segurar um resultado final de 3-2. A derrota por 4-1 era, de certa forma, previsível… o 3º lugar final não esconde o sentimento de derrota. Para o ano temos o campeonato da Europa.
(Foi identificado o meu conterrâneo. Trata-se de um famoso cromo, conhecido como o “Ridículo”, emigrante, que possui em Turquel um palacete de estilo piroso com uma tabuleta a dizer “propriedade privada.” Só faltava que dissesse “propriedade privada ao público.”)

Gaza
Vejo os judeus ultra-direita que se recusam a deixar as suas casas e não posso deixar de pensar o que sentiria se fosse forçado a deixar a minha casa – mas, mais que isso, penso nas centenas de milhar de portugueses que tiveram de sair de África sem indemnizações, sem bens, sem absolutamente nada.
Fico tão comovido que quase me esqueço que, quando tive de sair de casa apenas com a roupa e meia dúzia de livros, só pensava em começar uma vida nova, em paz, e em enterrar um passado de guerra. Não tenho pena nenhuma deles.

Helios Airways = Gato Fedorento
O desastre aéreo de um avião pertencente a uma companhia de baixo custo, devido a uma falha técnica tão estranha como a despressurização da cabine (nunca tinha ouvido falar em tal coisa) lembra-me um dos sketches da série Barbosa do Gato Fedorento, em que vemos dois passageiros a bordo de um avião da companhia Javard Air, cujo funcionário é comandante/hospedeiro/tripulante etc. e pede delicadamente aos passageiros para empurrarem o avião, porque o motor não pega.
Se for como cá, as responsabilidades vão voar p longe…

Notícias da Fórmula 1 – ruptura BMW/Williams
O que se esperava é agora oficial. É o fim de uma era na Fórmula 1.
“O fim de uma era? Mas não ganharam nada…”
Precisamente por isso. Há 25 anos que a equipa de Frank Williams é cliente assídua dos lugares cimeiros. Com motores Ford mas, especialmente, com motores Honda e Renault. Esta foi a primeira parceria com um grande construtor que não deu frutos – e a Williams não ganha nenhum campeonato desde 1997, um jejum prolongadíssimo.
Já se sabe que se houver 6 ou 7 equipas, associações, coligações, que declaram como objectivo final vencer o Campeonato de Pilotos, vai sair alguém frustrado. Antes foi a Ford que reconheceu que a sua Jaguar era, mais que uma tentativa séria de glória desportiva, uma nódoa, e vendeu a estrutura a alguém que não afirma querer ganhar o campeonato mas que lhe soube dar asas. Agora, a BMW que decide que a Williams já não é o que era. A compra da Sauber pela BMW é o primeiro passo para a constituição de uma equipa só da BMW (uma ironia histórica, já que a Sauber chegou à Fórmula 1 com a rival Mercedes) e significa uma óbvia quebra de confiança. A Williams terá agora motores Cosworth (empresa já independente da Ford) e tentará, sem dúvida, colar-se a um grande construtor – sob pena de se afundar irremediavelmente ou de o nome Williams desaparecer, à semelhança do que aconteceu com a Jordan que chegou a ganhar corridas e dará lugar à Midland em 2006.

A massa não estava assim tão picante…
1º round: 10-7
2º round: 4-2, 0-4 (1 só jogo) e 4-3.
Nada que não possa ser reposto numa próxima ocasião.
(Por um ou dois dias não tive a oportunidade de me cruzar com os srs. “Papa” e Tozé, que parece que estiveram de férias no Rebolo, Famalicão. Um abraço para o Gilberto e a Pandilha.)

Agosto 14, 2005

Mais do que dar os parabens ao Benfica por mais uma conquista, venho so aqui informar os caros Saripianos que estou praticamente de volta. Daqui a precisamente uma semana estarei num voo da BA (que esta de greve) a caminho de portugal. Preparem um belo churrasco! Fica desde ja um convite a todos os membros para aparecerem por minha casa. Aos amigos das ilhas a oportunidade fica para outra altura.

Agosto 10, 2005

Portugal, 20 – Macau, 1
Aos 10 segundos de jogo já estava 1-0… compreende-se que os portugueses tenham jogado na desportiva e para a fotografia, e tenham por isso falhado bem mais de 20 oportunidades de golo, – só assim se explica um resultado tão escasso. O treinador José Querido sublinhou que “é bom para a selecção macaense e a modalidade que o resultado não seja mais pesado.”
Um bom jogo de treino. Agora, um pouco mais a sério, segue-se a Suiça nos quartos-de-final. (É verdade, o meu conterrâneo lá estava com o seu cartaz…)