Archive for Fevereiro, 2005

Fevereiro 25, 2005

“A maior parte das pessoas entregam-se à miragem de uma dupla crença: acreditam na perenidade da memória (dos homens, das coisas, dos actos, das nações) e na possibilidade de reparar (actos, erros, pecados, injustiças). São as duas igualmente falsas. A verdade situa-se justamente nos antípodas; tudo será esquecido e nada será reparado. O papel da reparação (pela vingança e pelo perdão) será representado pelo esquecimento. Ninguém reparará as injustiças cometidas, mas todas as injustiças serão esquecidas.”
Milan Kundera, A Brincadeira

Ocasionalmente, continuo a ler o blog do Ivan. Por isso (por ser ocasionalmente) é que só agora respondo ao post do voto em branco.
O Ivan expõe, democraticamente, a sua opinião sobre o voto em branco, considerando-o de um moralismo pateta, que o votante em branco se julga o cúmulo do civismo, etc. No entanto, abre excepções para casos especiais, como a rejeição do sistema político (caso do Irão.)
O voto em branco não é, para mim, uma “forma moralmente correcta de neutralidade”. É uma escolha. Neste preciso momento, o votante em branco NÃO VÊ NENHUMA “alternativa política esboçada ou concebível.” (o que não significa que numa próxima eleição a situação se mantenha, obviamente.) Bem sei que o Ivan me responderia com aquele texto do The Guardian, que ele já postou no blog por duas vezes, que diz (resumidamente) que o voto é entre o mau e o muito mau. Mas porque há-de o eleitor ter mesmo de escolher? Rejeitar o sistema político pode não significar rejeitar a democracia; pode significar rejeitar o sistema democrático actual. Recordo-me de uma colega de curso que, numas eleições para a DG/AAC, recebeu o boletim de voto e, ostensivamente e sem se dirigir à cabine de voto, dobrou-o em quatro e introduziu-o na urna. Foi um claro voto de protesto… podem-me dizer que não serviu para nada, mas esse argumento para mim não pega – como não pegará para o Ivan – porque não é suposto votarmos apenas para nos sentirmos vencedores (embora a maioria proceda assim.) Ela exprimiu o seu voto claramente: não confio nesta pandilha de mafiosos.
O Ivan ataca também o secretismo do voto. Não me convence (nem vou falar das eleições no Iraque ou no Afeganistão, falemos só de Portugal); todos sabemos que o grau de cidadania num país que começou agora a destruir a sujeição do Zé-Povinho ao paternalismo das autoridades, sem o substituir por um sentido de responsabilidade cívica para com o País, não pode ser muito desenvolvido. E o voto público arrepia-me porque me faz lembrar uma cena de um romance de Kundera em que um indivíduo que julgava que tinha bastantes amigos foi expulso do Partido Comunista Checoslovaco e da Universidade pela assembleia de estudantes, e nunca mais recuperou a confiança na natureza humana porque viu os seus amigos levantarem o braço para a sua expulsão, levados pelo rebanho. Mas coloca-me o desafio de “expor hesitações, dúvidas e angústias”, e eu aceito.
Até ao dia de reflexão, hesitei entre votar em branco e votar Bloco. Sei que votando bloco não tenho direito de opinar sobre o aborto. Não quero ver Portugal fora da NATO. Acima de tudo, tenho dúvidas sobre as capacidades de gestão económica de um eventual governo com a participação do bloco, e da crise de confiança que um tal governo causaria aos empresários e à economia em geral. O Bloco é relativamente omisso no que toca a estas matérias; a ênfase no choque fiscal e no combate à corrupção não é acompanhada pelo esclarecimento do que vamos fazer para aumentar a competitividade da economia. O Bloco sabe, acima de tudo, dizer mal, e tem tido sucesso e posicionar-se como partido anti-sistema.
Foi por isso, e por me identificar com a maior parte – não com a totalidade – do programa “sociológico” do Bloco, por achar que é bom que a democracia tenha um partido que diga mal e que lute pela mudança de costumes, que votei no Bloco. Gostava que o Bloco insistisse mais na questão da necessidade de formar cidadãos esclarecidos para nos livrarmos de vez dos hábitos da ditadura, e não apenas de aproveitar o descontentamento dos jovens de mentalidade urbana através do radicalismo; por isso, suspeito que o Bloco estará a esgotar o seu modelo de sucesso – ou então são os tais tiques totalitários que o impedem de ir mais além. Também pode acontecer que os bloquistas pensem todos como o Ivan e vejam nos portugueses um espírito de cidadania desenvolvido e de cabeça erguida. Se é assim, estão apenas lamentavelmente equivocados…Espero atentamente para ver a acção do bloco durante esta legislatura para ver se corresponde às minhas expectativas. Espero também para ver se o PS consegue um governo competente e se o PSD consegue renascer com um projecto novo – mas as minhas expectativas em relação aos dois maiores sistemas eleitorais tachísticos portugueses são muito baixas, e daí que nenhum deles fosse para mim uma opção de voto, neste momento. (De resto, embirro fortemente com a democracia-cristã e com o marxismo-leninismo. Pensei vagamente em votar no PH ou no POUS, mas não me informei devidamente sobre as suas propostas.)

Dois amigos meus são grandes de U2: o Werklozen e o “falecido.” Serão que conseguiram comprar bilhetes para o concerto do ano?

Fevereiro 23, 2005


O sonho!”
“A verdade é esta: de desgraça em desgraça, o guerreiro menino conseguiu, em quatro meses apenas, “cumprir” o sonho de Sá Carneiro: dar a Portugal um governo, uma maioria, um Presidente. O PS agradece. O PSD, obviamente, nunca o esquecerá.”Miguel Carvalho”Visão on-line”, 22-02-05

Fevereiro 23, 2005

PARABÉNS RUC

Devido aos acontecimentos eleitorais do passado fim de semana, eu tive oportunidade de passar a tarde/noite no Hotel Altis, o conhecido quartel-general do Partido Socialista. Quando me dirigia para o átrio para conversar com um camarada que lá esperava por mim, sou abordado por uma menina cuja cara não me era estranha: – Olá Berto, podes dar-me algumas declarações para a Rádio Universidade de Coimbra?
Eu fiquei espantadíssimo!!! A RUC, uma Rádio com um orçamento reduzido e de dimensão menor que regional, teve a ousadia de cobrir, in loco, as eleições legislativas 2005. É mais uma mostra da excelente escola que é a RUC para futuros profissionais da Comunicação Social, bem como uma mostra da corajem e empreendedorismo de alguns jovens que, neste momento, presidem à RUC. Um abraço para o Hélder e para toda a malta que compõe os quadros da RUC.
Quanto às minhas declarações, posso confirmar que foi muito estranho. Até agora dei declarações como dirigente da Associação Académica de Coimbra, um Bastião da oposição cerrada ao Governo, seja ele de que cor for, e agora dou declarações como militante do PS, o partido que vai formar governo. Senti-me quase como um traidor.Foi uma sensação muito esquisita. Só espero que os meus inimigos internos, não utilizem isto para me chamarem vendido ou outras coisas semelhantes. Saudações Socialistas.eheheheheheheh

Fevereiro 22, 2005

A Administração do Blog vem por este meio, assinalar o 3º aniversário do I Encontro da SARIP em S. Martinho do Porto. Encontro que ficará certamente, na memória de todos os membros da SARIP e que será recordado durante muitos anos, não só pelos membros da SARIP, como pelos pescadores que estavam a pescar na Baía de S. Martinho ás 4 da manhã dessa fatídica noite.

Fevereiro 21, 2005

Em primeiro lugar, parabéns ao Berto.
E assim termina um curioso período da política portuguesa, que, se bem nos lembramos, começou (sem darmos por isso) com os primeiros rumores de que o Durão seria convidado para Bruxelas, coisa que o próprio não confirmou nem desmentiu. Foram 7 ou 8 meses de mudanças nos principais partidos, de confusão e de palhaçada, muita palhaçada. Esperemos que pelo menos a serenidade possa regressar. Pontos a sublinhar:
– Canas de Senhorim, por uma vez, deu um exemplo de civismo. Quanto todos esperávamos o habitual boicote, eis que Canas se transforma numa experiência-piloto da iniciativa do voto em branco já referida neste blog (e antes lançada pelo Saramago). Um dia destes, estende-se ao país. (Também, as eleições eram para o órgão que tinha aprovado a tonteira do concelho…)
– Paulo Portas, chocado com o avanço dos trotskistas, abandona o cargo. É pena, porque eu achava-lhe muita piada. Coitado, mais 2 ou 3% e podia ter permanecido à frente do partido, “descolando-se” do Santana, mas correu-lhe mal. É de sublinhar a dignidade da saída, não se mostrando, de facto, agarrado ao poder. Reconheço que me enganei; pensei que o CDS e o BE iam subir mas o CDS saiu derrotado e o Bloco subiu muito, mas continua em 5º.
– Há que dar os parabéns ao Pureza, conseguiu ser a terceira força política mais votada em Coimbra. Foi com o voto do Danish, concerteza.
– Aos meus amigos de Viseu e arredores, comunico-lhes que o novo Cavaquistão é aqui, nas terras entre o Bombarral e Castanheira de Pêra, o único círculo onde o PSD teve mais deputados que o PS (Não foi por acaso que a campanha passou por aqui no último dia). Longe vão os tempos em que o PCP tinha peso na Marinha Grande; conseguiu ficar em 5º lugar, atrás do BE… (deve ter sido da choradeira do Louçã na Mortensen.)
Estou moderadamente optimista, pois tudo correu bem, depois destes 8 meses de loucura, um ano depois de o Durão dizer que tinha um projecto PSD para Portugal até 2010. Evitámos o pântano em que, provavelmente, o governo Durão cairia; o Presidente Sampaio (cuja posição saiu reforçadíssima; e a esquerda, que dele só disse raios e coriscos em Julho, agora não emite um pio) deu uma legítima oportunidade a Pedro Santana Lopes de provar o que valia; firme, o Presidente evitou a continuação do chorrilho de parvoíces; o país avaliou Santana Lopes e votou na Estabilidade Que o País Precisa, evocada por muitas vozes. Só falta mesmo que o PSD faça por sua vez a avaliação de Santana Lopes e procure uma nova liderança, competente e capaz. É aqui que cai a nódoa, pois ao contrário de Portas, Lopes ainda tem a lata de não se demitir e apenas pedir congresso…

Fevereiro 21, 2005

PS ganhou, parabéns a todos os seus militantes e simpatizantes. Nos próximos 4 anos (será que sim?), vamos ver se a decisão de cerca de 2.500.000 de portugueses foi uma boa decisão. Perdão da dívida dos clubes, abafar o escândalo da Casa Pia, permitir o casamento de homossexuais, um novo referendo sobre o aborto, estudos sobre as reformas, aumento da productividade da eocnomia, 180.000 empregos, 300.000 idosos fora da pobreza, foram estas algumas da promessas, vamos ver quais delas e quando serão concretizadas. Saliento ainda os 103.555 cidadãos que tiveram a inteligência de votar em branco, juntamente com os 63.765 que votaram nulo, a todos esses os meus sinceros parabéns. Agora sim, os portugueses têm o governo realmente ajustado às suas medidas, um governo a favor dos “futebóis”… Bem, mal por mal é capaz de ser melhor que o governo PSD. Queria só deixar uma nota a CDS, apesar dos ministros CDS-PP terem sido os melhores dos ultimos 6 meses, o PP pagou injustamente nestas eleições, mas também com um lider assim não se pode esperar muito mais. BE, não ganhou tanto como previsto, apesar deles “cantarem” bem alto a sua vitória, eu esperava algo mais do que 6%. CDU, foi a surpresa, parece que mudar de líder após 20 anos surtiu alguns efeitos, mesmo sendo um líder rouco. Parabéns ainda ao POUS, que teve menos de 1%, o pior resultado de sempre deste movimento!

Fevereiro 21, 2005

Enquanto que alguns devem estar neste momento a mamar umas belas bejecas num bar qualquer em coimbra a celebrar a derrota do PSD e a subida significativo da CDU e do Bloco, outros com certeza estao preocupados com a maioria absoluta do PS no parlamento…
Aqui na terra do Tio Sam entretive-me a ver o jogo dos All Stars da NBA… porque h’a coisas bem mais interessantes para fazer num domingo.
Abraco

Fevereiro 20, 2005

Fevereiro 20, 2005

Vote Nulo ou em Branco!!!

O Movimento pela Liberdade do Vale de Picassinos (MLVP), vem por este meio pedir a todos os seus apoiantes que nas eleições de hoje votem nulo ou em branco. Enquanto o Vale de Picassinos não tiver uma caixa Multibanco, uma farmácia, um cemitério e for considerado Freguesia, os habitantes do Vale de Picassinos deverão ter sempre um voto nulo ou branco em todas as eleições e referendos, principalmente nos referendos a favor dos abortos, ou seja, as legislativas. O MLVP quer ainda, demonstrar o seu apoio pelos Movimentos de Canas de Senhorim e do Soito, esperamos que estes dois movimentos consigam atingir os seus objectivos utópicos muito brevemente. VIVA O VALE DE PICASSINOS!!!

Fevereiro 18, 2005

“Em 1997, o primeiro-ministro japonês Yashimoto…”
…lá fez qualquer coisa que não me lembro bem. Lembrei-me foi desta frase, porque na passada quarta-feira entrou em vigor o Protocolo de Quioto. (Será que o André Sousa já arranjou emprego?)

Estaremos a assistir a uma nova era na relação Portugal-Europa? Estará a Europa a seguir o nosso caminho?
“Curiosamente, e como atrás referimos, a construção da imagem “irrealista” e “fantástica” de um Portugal “grande” foi simultânea com o início do salto mortal que nos levou ao abismo da decadência; assim, imagem de Portugal sobre imagem da Europa, é inevitável concluir-se, por comparação, que estamos a assistir hoje ao início da decadência europeia, da qual o sinal mais evidente foi dado já esta década pelo “brilho” da ausência da Europa na Guerra do Golfo. Para Eduardo Lourenço, este foi o “acto de cultura” mais sistemático da nossa década de noventa: levará muito tempo até que se descubra, em toda a sua amplitude, o que representou a chamada Guerra do Golfo (…) pela sua ausência militar, a Europa enquanto tal (…) é já a grande vencida da Guerra do Golfo (…) sentido do fenómeno é o mesmo, a Europa saiu da História, a Europa e os Europeus estão mortos por sair de uma história que fizeram durante séculos, que os cansou (…) Bem, foi a esta Europa frágil mas hiperidentitária quanto ao seu passado que Portugal aderiu na década de 80, esperando dela, não a reconversão imperial do sonho já desfeito (para Portugal e para a Europa) pela força das circunstâncias, não um lugar privilegiado (…) mas simplesmente o da normalidade (…) não nos consideramos nem superiores nem inferiores a qualquer outra nação europeia (…)
Miguel Real, Portugal – Ser e Representação (1998)
O Continente de Leiria tinha stocks de livros acumulados em saldos; comprei este por 3€. Infelizmente (para esta temática), hoje estou demasiado racionalista e pouco poético.
É bonito pensar que, de facto, como a Europa foi grande mas já não manda nos destinos do Mundo, acabou por vir ao nosso encontro, que por aí passámos há 400 anos. É, pelo menos, mais próximo da realidade quotidiana do que as “profecias” do Fernando Pessoa; por mais que se goste de Portugal e do poeta messiânico, o Quinto Império e o regresso figurado de D. Sebastião estão mais longe que o campeonato do Benfica. No entanto, esse tal Eduardo Lourenço não me convence. Pior que isso: talvez o nosso grande problema de hoje é pensarmos demasiado no nosso passado grandioso. Olhemos para a Irlanda. Não tem um passado glorioso. Foi amassada e humilhada pelos ingleses, sofrendo toda a espécie de desastres, até ao pior de todos – a Fome de meados do século XIX e a emigração em massa para os EUA, onde eram acolhidos pelo Butcher e pela Família Tammany. Que eu saiba, não tem profecias gloriosas. Os únicos que contribuem para o Império Espiritual Irlandês (que Pessoa sonhou para Portugal) são os U2. Não manda no mundo.
Mas conseguiu fazer civilização, à sua maneira: libertar-se do atraso educacional e do atraso económico, aproximando-se dos “outros”. Podem vir 100 Eduardos Lourenços dizer-me que a Europa deixou de ser o que era, que não me convencem. Na Dinamarca fazem-se filmes em que se põe em causa o sentido da vida depois de todas as necessidades materiais das pessoas estarem satisfeitas. Aí, sim, podemos partir para novas formas de encarar a vida em sociedade. Antes, não vale a pena…e nós, por cá, estamos muito longe da Dinamarca…
(havia também a 3€ um livro muito especial: um estudo/análise sobre vários sistemas políticos democráticos, e o português em particular, sobre os equilíbrios entre o Presidente da República e o Governo, variadas opções constitucionais, etc. O vaidosíssimo autor trazia a sua cara repetida 4 vezes na capa. Um prémio a quem adivinhar o nome desse autor…)