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Porto, 1980 – o background do Chico Fininho

Fevereiro 18, 2010

“É talvez o mais famoso “freak” português de todos os tempos, apesar de nunca ter existido, a não ser nas espiras de um disco. Foi concebido no útero de uma guitarra eléctrica, nasceu num parto de três acordes em “blues” mas logo correu para o gira-discos e se empoleirou no prato, refastelando-se nos três minutos de glória proporcionados por uma canção pop. Daí pairou numa posteridade discreta da qual caberá, de vez em quando, às gerações seguintes, definir os contornos.
(…)
a descrição do Chico Fininho era tão vívida, a canção era tão sugestiva, que muitos julgavam que ele era alguém de carne e osso, que com sorte poderia ser encontrado num qualquer café do Porto, sendo detectável pela sua indumentária ou pelo seu inconfundível calão urbano, recheado de termos como “shoot”, “merda” (como sinónimo de droga) “trip” ou “judite”. O próprio Rui Veloso teve alguma dificuldade em impor uma personalidade própria, já que muitos chegaram a suspeitar que o “freak” fosse uma espécie de “alter-ego” do cantor, uma reencarnação que Veloso usasse para singrar no “underground” citadino. Mas, por irónico que pareça, o Chico Fininho é anterior à própria emergência de Rui Veloso no mundo do espectáculo. O seu parceiro Carlos Tê é que o criou, escrevendo o poema por alturas de 77, ou seja, ainda antes de conhecer Rui Veloso e é também ele, ao contrário do que geralmente se julga, o autor da música.
(…)
A própria Cantareira (de que muitos portuenses ouviram falar pela primeira vez por causa do Chico Fininho) é uma simples zona de pescadores junto ao rio Douro que só por um mero acaso poderia ser confundida com um paradeiro de “freaks”. A menção deste local na canção deve-se prosaicamente ao facto de ele constituir uma escala frequente nos passeios habituais de Carlos Tê ao longo da zona ribeirinha. O amigo de Rui Veloso morava, então, no Bairro da Pasteleira, não longe da Foz, e costumava descer a pé em direcção ao Passeio Alegre e ao Jardim António Cálem para às vezes só terminar na vila piscatória da Afurada (também tema de uma canção em “Ar de Rock”) após uma travessia do rio de barco. (…)

Fonte: Nuno Corvacho (texto de 2000)

Gingando pela rua
Ao som do Lou Reed
Sempre na sua
Sempre cheio de speed

Segue o seu caminho
Com m**** na algibeira
O Chico Fininho
O freak da Cantareira

Chico fininho
Uuuuuuh uuuuuuh

Aos sss pela rua acima
Depois de mais um shoot nas retretes
Curtindo uma trip de heroína
Sapato bem bicudo e joanetes

A noite vem já e mal atina
Ele é o maior da Cantareira
Patchuli, borbulhas e brilhantina
Cólicas, escorbuto e caganeira

Chico fininho
Uuuuuuh uuuuuuh

Sempre a domar a cena
Fareja a judite em cada esquina
A vida só tem um problema
O ácido com muita estricnina

Da Cantareira à Baixa
Da Baixa à Cantareira
Conhece os flipados
Todos de gingeira

Chico fininho
Uuuuuuh uuuuuuh