Archive for the ‘O Casamento do Reinold’ Category

O Casamento do Reinold – III

Julho 26, 2008

Tenho recebido aplausos e apupos em relação ao relatório do casamento. Para os aplausos, agradeço, lamento o atraso e prometo muito trabalho e dedicação. Datas, é melhor não prometer nada… mas, isso é como o antigo líder do PSD, “ele há de sair, não sabe é quando.” Para os apupos, como eu disse no primeiro post do casamento, as caixas de comentários estão abertas a sugestões e melhoramentos, lembranças de coisas que não se falaram. Também estão abertas ao bota-abaixo do género “ah, isso não interessa nada” mas não se menciona o que poderia interessar. Mas o bota-abaixo não aparece nas caixas de comentários, porque é demasiado português para isso.

Enquanto aguardávamos a saída dos noivos, tentei apanhar fotos da paisagem circundantes. Minde está rodeada pela montanha, que é uma presença visual muito forte. Um pouco como o mar, nos Açores. Onde quer que olhemos, lá está. Não apanhei fotos de jeito, mas consegui algumas durante a viagem para a Quinta dos Lagos, no Vale do Horto, Azoia, Leiria. O percurso entre Minde e Porto de Mós é assim…



…Chegámos à Quinta dos Lagos por volta das 16 horas.

A Quinta dos Lagos é situada num vale, próximo de Leiria. Tem muito boas áreas, pequenos lagos e mini-pontes para o imaginário infantil, e com grandes choupos que dão uma excelente sombra, com alguns cavalos em estábulo.

Casamento prático! Nada de fazer as pessoas esperar para a fotografia, sem comer e sem beber. Não. Primeiro e antes de mais nada, os noivos abriram a mesa.




Depois, sem pressas e descontraidamente, de barriga já composta, toda a gente foi tirando fotos com calma. Com os noivos ou sem eles…

Depois de toda a gente se ter deliciado com a variedade de pitéus espalhados pelas mesas, e tendo havido tempo para relaxar tranquilamente na esplanada, observando atentamente toda a “community” de convidados e fazendo uma série de observações de índole sociológica sobre alguns deles e delas, entrámos para o grande e refrescado pavilhão. Lá descobrimos o alinhamento das mesas.

O Casamento do Reinold – II

Julho 13, 2008

A criatividade do narrador não obriga àquele procedimento standardizado de contar as histórias segundo a sua ordem cronológica. É para isso que existem os romances de António Lobo Antunes, onde nunca se sabe onde está o fim ou o princípio. Aqui não chegamos a tanto, mas permitimo-nos alguns flashbacks, nomeadamente para identificar pormenores curiosos, como este:Do lado direito da foto, a única convidada deste casamento que envergava o típico traje da mulher nazarena.

O casamento começou com poucos minutos de atraso em relação à hora marcada.
http://www.youtube.com/v/0A9ngN99TCI&hl=en&fs=1

Ocupámos, portanto, um banco do lado direito, juntamente com uma senhora com quem, pouco depois, o Daniel meteu conversa, inquirindo qual a sua eventual relação com o noivo.

Eis senão quando a senhora o informa de que não é convidada ao casamento, e que estava ali apenas para ver a cerimónia! “Gosto muito de ver a noiva”.

Não se trata de um caso isolado. No livro “A Lua Não Está À Venda”, de Alice Vieira, existe uma personagem – uma porteira – que gosta de, aos sábados, ir à igreja para ver a noiva. É uma cerimónia, há uma emoção, lágrima no olho – enfim, algo de perfeitamente incompreensível para a cultura e a civilização que temos agora, mas que fez e ainda faz parte da cultura tradicional e religiosa portuguesa. O Danish apontou-nos que, na religião islâmica, assistir a uma cerimónia de casamento favorece o crente, nem que seja porque se trata de assistir a um dos actos centrais sobre o qual se baseia a sociedade e a fé e, portanto, é algo que interessa a todos e pode estar aberto a todos. Naturalmente, tal está muito próximo desta nossa tradição.

Mais engraçado ainda foi quando o Daniel perguntou à senhora, natural da terra, quem tinha fundado a Igreja (depois de termos visto, numa parede, a placa “1704”, o que condizia bem com a arquitectura, típica desse tempo no qual se construíram muitas das igrejas das aldeias portuguesas, e com a talha dourada.


Reza a lenda que a igreja foi mandada construir por um rei que estava em guerra com Espanha e que esteve refugiado em Minde, tendo fugido de comboio à aproximação dos espanhóis. Mais tarde, mandou construir a igreja em sinal de agradecimento ao povo que o acolheu.
O dr. José Hermano Saraiva costuma contar estas lendas populares, não pela sua veracidade ou verosimilhança, mas porque são muito úteis para compreendermos os pensamentos profundos do povo, aquilo que a lenda representa. Não sei se o Dr. Saraiva conhece esta lenda da igreja de Minde nem o que pensaria de tal; eu arrisco que este povo serrano, levando uma vida dura, de trabalho difícil e de isolamento, longe de senhores feudais e de contendas, talvez quisesse ter para si uma história ligada a grandes acontecimentos. Bem, mas eu não vou estar a inventar, até porque Minde tem uma história muito específica, tem um calão próprio – o minderico – como talvez não haja outro em Portugal e escuso de estar para aqui a inventar.
Em termos históricos, Portugal era um dos países intervenientes na guerra civil espanhola que decorria quando a igreja foi construída, em 1704, mas é improvável que o rei se tenha refugiado ali, até porque a invasão espanhola nessa guerra foi muito breve e limitada, e quanto ao comboio… bem…

A noiva fez algum suspense, com uma entrada pausada, que permitiu aos músicos presentes (sem o tradicional órgão e sem a tradicional Marcha Nupcial, nem a de Mendelsson, nem a de Wagner – que, de resto, tende a ser proibida pela Igreja Católica) a criarem a envolvência adequada.
http://www.youtube.com/v/iNAeeAXWpFI&hl=en&fs=1

Os livros da missa eram totalmente bilingues. A segunda leitura foi precisamente proferida em neerlandês:
http://www.youtube.com/v/5ZfeM2FtHk8&hl=en&fs=1

O padre Albino Carreira fez uma cerimónia inteligente, reduzindo-a ao mínimo essencial – consciente de que os convidados, “que vêm de tão longe”, não iriam perceber patavina do que ele estava a dizer, assim como ele mal foi capaz de dizer os nomes dos pais do noivo, como naturalmente reconheceu. Das poucas coisas que disse, é de sublinhar o facto de no casamento “não ser preciso falar muito”, ou seja, o amor é que conta. Não podia ser mais adequado.

O cântico do salmo foi efectuado por um jovem adolescente com uma boa voz de soprano que não condizia totalmente com a sua imagem. Esse momento, do qual infelizmente não temos imagens, foi comparado com este – e foi vivamente comentado o resto do dia.

A saída foi como manda a tradição, com muito arroz e repicar de sinos. Infelizmente, o Youtube não aceitou o vídeo que captei deste momento, pelo que vou substituí-lo por esta foto da noiva, secundada por dois anjinhos nitidamente mal preparados para o clima quente e solarengo da Europa meridional.


O carácter prático deste casamento voltou a estar patente na foto “geral”, que normalmente se tira à saída, com todos os convidados. Geralmente, é uma cerimónia para demorar 10 minutos, até que todos os convidados estejam a postos, os mais altos se convençam a ir para trás ou a baixarem-se, e os grupos de conversas se convençam a calarem-se por um bocadinho e virarem-se para a frente.
Aqui, não. Em dois minutos estavam tiradas as fotografias. Tive pena de não ver o resultado final, porque havia várias pessoas viradas para trás a conversar e praticamente não houve enquadramento por parte dos fotógrafos para se ver toda a gente. Mas pelo menos não estivemos a torrar ao sol.

(Continua)

O Casamento do Reinold – I

Julho 8, 2008

O relato de casamentos começa a ser uma tradição deste blogue. Mais uma vez, fica o “disclaimer” também habitual: este “relatório” representa apenas o meu ponto de vista pessoal, e portanto as distorções e/ou omissões aos factos são da minha inteira responsabilidade. A caixa de comentários fica aberta a questões, complementos, coisas que eu não tenha visto, etc. Só um relato geral permite uma visão também ela geral.

Antes de mais nada, uma palavra para o Fernando, o grande ausente deste casamento devido às pressões monopolísticas dos grandes grupos económicos públicos nacionais do sector dos transportes. O Fernando nunca deixou de estar presente nos corações de todos, Reinold incluído, como veremos mais tarde. E é verdade que algo ficou em falta desta vez. Tenhamos esperança que se tratou apenas de mais um interlúdio até ao reencontro.



O casamento teve um género de despedida de solteiro no Sábado, tendo a SARIP da Europa Continental (tal como tem sido hábito desde Setembro de 2002) deslocado-se ao Valado no Sábado à noite para uma pequena comemoração, onde estariam presentes alguns familiares do Reinold. Infelizmente, chegámos bastante atrasados devido ao facto de termos estado retidos na Praia do Pedrógão para uma etapa de um torneio de andebol de praia, onde a equipa dos famosos Renegados disputou 2 jogos e onde foi necessária a presença de jogadores extra-inscrição para colmatar as ausências. E que bem que eu colmatei essa ausência no banco, o árbitro até chegou a dirigir-me a palavra e tudo. Os Renegados ganharam um jogo que estava perdido e perderam um jogo que estava ganho.

Chegámos ao Valado próximo das 22:30, e se esperávamos uma festa animada, encontrámos aquilo que – bem, aquilo que seria de esperar, não? TODOS os familiares do Reinold, com excepção de uma tia, já estavam na cama! Os holandeses vêm o sol a pôr-se e começam a lavar os dentes… Ou seja, comemos silenciosamente na companhia dos amigos que o Reinold fez em Boston; o Noel, alemão, a sua namorada colombiana e o suíço, filho de pai italiano e mãe filipina, ambos imigrados na Suíça. Ou seja, tal como eu comentei para o Daniel, “we’re the minority here”. Falou-se da Suíça, das Filipinas, de “getting back to the roots”, de Moçambique, de Ingrid Betancourt, dos romanos, etc.

Houve ainda tempo para um pulo ao célebre Seveniks, onde não estava o Gilberto, antes de regressarmos a casa.



O grande dia começou muito lentamente depois de uma noite um pouco difícil, porque eu e o Danish temos poucas defesas naturais e estivemos demasiado tempo ao sol no dia anterior. Entre os atrasos, as afinações e a compra de uma prenda cuja elaboração do embrulho demorou mais de 20 minutos, a chegada a Picassinos foi cerca das 10:45, onde fizemos o “transfer” para um Mercedes CDI 20 Sport Coupé que seria o nosso carro de serviço para o resto do dia. O Mercedes fez-se à auto-estrada revelando toda a sua estabilidade e segurança, permitindo-nos chegar ao Valado ainda a tempo para o pequeno-almoço.

Agora sim, uma casa cheia de gente, com destaque para os convidados holandeses, e uma bela piscina. O fotógrafo foi demasiado amador – ou circunspecto – e não conseguiu apanhar nenhum foto com 7 ou 8 convidados arianos.

A SARIP fez questão de se apresentar de uniforme, e portanto trouxeram todos uma camisa azul-clara (com excepção do algodão egípcio do Danish, mas sem deixar de destoar na claridade) e uma gravata azul-escura. É pelos pormenores que se identifica a fineza deste grupo. (contra as más-línguas insinuando que foi apenas uma coincidência.)

Para a posteridade, provavelmente uma das nossas melhores fotos, enquanto ainda não estamos demasiado gordos.

…além da excelência da comida, é de destacar o carácter imensamente prático deste povo. Tudo ordenado, sem confusões, todos a saberem o que têm de fazer e para onde vão. A impavidez foi simbolizada pelo sr. Gerrit, que, quando à chegou, limitou-se a chamar “Reinold!” e a apontar para o relógio. Passados 60 segundos, o pátio estava quase evacuado, com excepção dos tugas que ainda estavam de volta de uma banana.

A viagem decorreu entre o Valado e Minde, a terra da Marta, contornando a Serra dos Candeeiros via Porto de Mós, passando por Alcobaça. O trajecto foi muito tranquilo, mas a subida da serra de Aire, entre Porto de Mós e Mira de Aire, poderia ter sido mais complicada se durasse mais tempo. A estrada é bastante ondulada… (clicar sobre a imagem para aumentar)

Mira de Aire e Minde são duas vilas gémeas instaladas no polje de Minde, ao qual já fiz referência neste blogue. Trata-se de um fenómenos geológico único na Península Ibérica e típico de regiões de calcário, sendo também frequente em zonas da ex-Jugoslávia. Trata-de de uma planície com cerca de 10 km de extensão e 3 de largura, ladeada por montanhas (sendo especialmente alta a vertente do poente). Toda a zona da Serra de Aire e Candeeiros é calcária, pedra mole e permeável à água, pelo que é aqui que se encontram o “complexo” de grutas de Portugal, existindo várias visitáveis com grande profundidade e muitas outras que fazem desta região o paraíso dos espeleólogos. A água das chuvas escoa-se naturalmente pelo solo e penetra a centenas de metros de profundidade. Nos invernos mais chuvosos, a água sobe e inunda o polje, criando um lago que pode durar 2 ou 3 meses e, se a água for muita, criar risco de cheia para as populações.


Um pouco antes das 12:30, chegámos com toda a tranquilidade à Igreja de Minde. Os tugas apontaram todos ao largo da Igreja, de maneira que o trânsito esteve parado cerca de 10 minutos porque de todas as ruas vinham carros a tentar alcançar o Largo, antes de perceberem que não havia lugar para todos. Este procedimento, que aparentemente revela comodismo ou falta de bom senso, é na verdade uma medida de extrema lucidez: quando não conhecemos bem um sítio, nada melhor que estar 10 minutos parado dentro do carro para observarmos com atenção todos os pormenores e para nos sentirmos como em nossa casa.

(continua)

O Casamento do Reinold – 0 (zero)

Julho 7, 2008


O que estará Daniel Sousa a conversar com esta misteriosa senhora de Minde? Para descobrir isto e muito mais, não percam o relatório completo sobre o casamento do Reinold e da Marta, nos próximos dias.