O relato de casamentos começa a ser uma tradição deste blogue. Mais uma vez, fica o “disclaimer” também habitual: este “relatório” representa apenas o meu ponto de vista pessoal, e portanto as distorções e/ou omissões aos factos são da minha inteira responsabilidade. A caixa de comentários fica aberta a questões, complementos, coisas que eu não tenha visto, etc. Só um relato geral permite uma visão também ela geral.
Antes de mais nada, uma palavra para o Fernando, o grande ausente deste casamento devido às pressões monopolísticas dos grandes grupos económicos públicos nacionais do sector dos transportes. O Fernando nunca deixou de estar presente nos corações de todos, Reinold incluído, como veremos mais tarde. E é verdade que algo ficou em falta desta vez. Tenhamos esperança que se tratou apenas de mais um interlúdio até ao reencontro.
O casamento teve um género de despedida de solteiro no Sábado, tendo a SARIP da Europa Continental (tal como tem sido hábito desde Setembro de 2002) deslocado-se ao Valado no Sábado à noite para uma pequena comemoração, onde estariam presentes alguns familiares do Reinold. Infelizmente, chegámos bastante atrasados devido ao facto de termos estado retidos na Praia do Pedrógão para uma etapa de um torneio de andebol de praia, onde a equipa dos famosos Renegados disputou 2 jogos e onde foi necessária a presença de jogadores extra-inscrição para colmatar as ausências. E que bem que eu colmatei essa ausência no banco, o árbitro até chegou a dirigir-me a palavra e tudo. Os Renegados ganharam um jogo que estava perdido e perderam um jogo que estava ganho.
Chegámos ao Valado próximo das 22:30, e se esperávamos uma festa animada, encontrámos aquilo que – bem, aquilo que seria de esperar, não? TODOS os familiares do Reinold, com excepção de uma tia, já estavam na cama! Os holandeses vêm o sol a pôr-se e começam a lavar os dentes… Ou seja, comemos silenciosamente na companhia dos amigos que o Reinold fez em Boston; o Noel, alemão, a sua namorada colombiana e o suíço, filho de pai italiano e mãe filipina, ambos imigrados na Suíça. Ou seja, tal como eu comentei para o Daniel, “we’re the minority here”. Falou-se da Suíça, das Filipinas, de “getting back to the roots”, de Moçambique, de Ingrid Betancourt, dos romanos, etc.
Houve ainda tempo para um pulo ao célebre Seveniks, onde não estava o Gilberto, antes de regressarmos a casa.
O grande dia começou muito lentamente depois de uma noite um pouco difícil, porque eu e o Danish temos poucas defesas naturais e estivemos demasiado tempo ao sol no dia anterior. Entre os atrasos, as afinações e a compra de uma prenda cuja elaboração do embrulho demorou mais de 20 minutos, a chegada a Picassinos foi cerca das 10:45, onde fizemos o “transfer” para um Mercedes CDI 20 Sport Coupé que seria o nosso carro de serviço para o resto do dia. O Mercedes fez-se à auto-estrada revelando toda a sua estabilidade e segurança, permitindo-nos chegar ao Valado ainda a tempo para o pequeno-almoço.
Agora sim, uma casa cheia de gente, com destaque para os convidados holandeses, e uma bela piscina. O fotógrafo foi demasiado amador – ou circunspecto – e não conseguiu apanhar nenhum foto com 7 ou 8 convidados arianos.
A SARIP fez questão de se apresentar de uniforme, e portanto trouxeram todos uma camisa azul-clara (com excepção do algodão egípcio do Danish, mas sem deixar de destoar na claridade) e uma gravata azul-escura. É pelos pormenores que se identifica a fineza deste grupo. (contra as más-línguas insinuando que foi apenas uma coincidência.)
Para a posteridade, provavelmente uma das nossas melhores fotos, enquanto ainda não estamos demasiado gordos.
…além da excelência da comida, é de destacar o carácter imensamente prático deste povo. Tudo ordenado, sem confusões, todos a saberem o que têm de fazer e para onde vão. A impavidez foi simbolizada pelo sr. Gerrit, que, quando à chegou, limitou-se a chamar “Reinold!” e a apontar para o relógio. Passados 60 segundos, o pátio estava quase evacuado, com excepção dos tugas que ainda estavam de volta de uma banana.
A viagem decorreu entre o Valado e Minde, a terra da Marta, contornando a Serra dos Candeeiros via Porto de Mós, passando por Alcobaça. O trajecto foi muito tranquilo, mas a subida da serra de Aire, entre Porto de Mós e Mira de Aire, poderia ter sido mais complicada se durasse mais tempo. A estrada é bastante ondulada… (clicar sobre a imagem para aumentar)
Mira de Aire e Minde são duas vilas gémeas instaladas no polje de Minde, ao qual já fiz referência neste blogue. Trata-se de um fenómenos geológico único na Península Ibérica e típico de regiões de calcário, sendo também frequente em zonas da ex-Jugoslávia. Trata-de de uma planície com cerca de 10 km de extensão e 3 de largura, ladeada por montanhas (sendo especialmente alta a vertente do poente). Toda a zona da Serra de Aire e Candeeiros é calcária, pedra mole e permeável à água, pelo que é aqui que se encontram o “complexo” de grutas de Portugal, existindo várias visitáveis com grande profundidade e muitas outras que fazem desta região o paraíso dos espeleólogos. A água das chuvas escoa-se naturalmente pelo solo e penetra a centenas de metros de profundidade. Nos invernos mais chuvosos, a água sobe e inunda o polje, criando um lago que pode durar 2 ou 3 meses e, se a água for muita, criar risco de cheia para as populações.
Um pouco antes das 12:30, chegámos com toda a tranquilidade à Igreja de Minde. Os tugas apontaram todos ao largo da Igreja, de maneira que o trânsito esteve parado cerca de 10 minutos porque de todas as ruas vinham carros a tentar alcançar o Largo, antes de perceberem que não havia lugar para todos. Este procedimento, que aparentemente revela comodismo ou falta de bom senso, é na verdade uma medida de extrema lucidez: quando não conhecemos bem um sítio, nada melhor que estar 10 minutos parado dentro do carro para observarmos com atenção todos os pormenores e para nos sentirmos como em nossa casa.
(continua)