Um texto para reflexão
(quando ponho um texto para reflexão, quer dizer que não digo, ou não quero dizer – ou, mesmo, não sei dizer – se concordo com ele ou não, ao contrário das simples citações que implicam sempre que assino por baixo.)
“Partindo do princípio de que a generalidade dos Estados-nação tem de ter uma matriz religiosa qualquer, não me desagrada nada o facto de viver num país maioritariamente católico. De facto, e apesar de não ser crente, reconheço ao catolicismo importantes vantagens sobre os seus possíveis concorrentes na nossa área geográfica: o islamismo quase sempre menoriza as mulheres e tolhe a liberdade individual a níveis insuportáveis e o cristianismo reformado (em particular o de raiz calvinista) é mais propenso à discriminação do que o catolicismo, que é mais miscigenador e universalista. Claro que também tem os seus contras, e não são pequenos: desconfia da leitura e não incentiva o livre-exame, sobretudo; mas eu não consigo deixar de gostar mais da opulência barroca do que do rigorismo nórdico: “antropologicamente” falando, acho que sou um bocado católico e há muito que decidi aceitar esse facto. Por todas essas razões, eu gostava de viver em paz com a Igreja – ela cuidando dos seus negócios e eu dos meus, todos em alegre convívio – mas infelizmente não consigo, porque ela não deixa. (…)”
António Figueira
O Carnaval está a chegar
(reedição de post antigo)