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Centenário da República

Outubro 5, 2010

Assinala-se hoje o centenário da República e, no âmbito das comemorações do 10º Aniversário da SARIP, lançamos aqui fervorosos cumprimentos ao nosso distinto colega e amigo Filipe d’ Avillez, o “monárquico”, licenciado em Relações Internacionais, feroz benfiquista e autor de livros para crianças, e com quem pudemos debater a questão monárquica e muitas outras.
Faz hoje 100 anos que, depois de um dia 4 de combates extremamente confusos em Lisboa, o regime da monarquia constitucional foi substituído por um regime republicano.

Hoje, dada a crise e o desânimo que se instala na sociedade portuguesa, a pergunta que se coloca é: porque razão não conseguem os monárquicos colocar a sua causa como uma verdadeira alternativa à República?

A razão é simples. Entre 1789 e 1989, as pessoas – os povos – acreditaram que a política lhe traria futuros brilhantes. O mundo é hoje um lugar diferente e, no geral, melhor que o de 1789, mas a partir de 1989, as pessoas deixaram de acreditar na ideologia, em particular, e na política, em geral. No caso específico de Portugal, as pessoas sabem que um regime monárquico, i.e., existir um rei no lugar do presidente da república, não adiantaria rigorosamente nada.

Os símbolos
Há 100 anos, os republicanos debatiam-se com a questão dos símbolos. A Monarquia tinha um símbolo – o Rei – com o qual as pessoas se podiam identificar e que podiam reconhecer. A República era uma ideia abstracta, não podia estar identificada numa pessoa – e daí a adaptação portuguesa do símbolo francês da Marianne, hoje mais púdica que há 100 anos atrás.

A República, em 2010

Hoje, por ironia, sucede o inverso: as pessoas podem reconhecer a República no presidente, seja ele qual for, sendo no momento actual este cidadão. Já a Monarquia, sem rei, é representada por uma antiga bandeira.

Uma personalidade forte?
Tantos dizem que “é preciso o Salazar de volta” que talvez uma personalidade forte pudesse levar as pessoas
a preferir a Monarquia, como um salvador da Pátria. É verdade que existe um rei reconhecido na opinião pública e nas revistas. É até possível que seja ele, de facto, o herdeiro legítimo da Casa Real portuguesa. Mas o facto permanece: a causa monárquica não é unânime no apoio a Duarte Nuno. Como poderia o país confiar num movimento e numa causa que não consegue sequer entender-se sobre a questão básica que é a escolha do Rei?

Entendam-se, cavalheiros!
No meu caso, e depois de ter permanecido durante a segunda metade da década de 90 na ilusão de que Duarte Nuno era o Rei, – depois do seu mediático casamento em 1995 – foi o Filipe que me chamou a atenção para este facto. A Causa Monárquica tem um problema para resolver. Talvez sejam necessárias umas novas cortes de Coimbra, e um novo Nun’Álvares que reúna 300 homens armados que estabeleçam o consenso em torno de um candidato. Enquanto isso não acontecer, a eventual falta de carisma de Duarte Nuno é um assunto secundário. Os esforços do 31 da Armada têm piada mas a opinião pública não se comoveu e, mesmo num momento de grave crise, não se vira para a Monarquia como a possível tábua de salvação do país…