Archive for the ‘Filosofia’ Category

Gerações

Novembro 4, 2007

“Quando a vossa alma sentir um fenómeno medianamente característico da vossa época como algo de externo ou indecifrável, é porque algo em vós quer envelhecer. Há em todos os organismos – individuais ou sociais – uma tendência – e até voluptuosidade – em desligar-se do presente, que é sempre inovação, e recair por inércia no que é passado e habitual, há uma tendência para os homens se tornarem pouco a pouco arcaicos.”

Ortega y Gasset, “O Que é a Filosofia?” escrito pela primeira vez entre 1929 e 1930.

O livrito que comprei na FNAC de Coimbra na última Latada está a revelar-se proveitoso. Na passagem citada, o célebre filósofo espanhol do século XX aponta-nos uma verdade muito simples e a qual já tive oportunidade de experimentar, apesar dos meus verdes 24 anos: a verdade é que há pelo menos um fenómeno medianamente característico da minha época – os “Morangos com Açúcar” – e que a minha alma sente como externo e indecifrável. É um primeiro indício ou sintoma de envelhecimento. Daqui até 2070, quando eu fizer 87 anos, tenderá a piorar … numa versão muito pessimista, claro, porque o tempo da minha geração ainda não passou.

Ortega y Gasset discorre sobre vários outros assuntos que ficam para outro dia. Por agora, e visto que não há meio de termos o relatório da temporada de F1 2007, ficamos com mais memórias – o dia em que o piloto estreante Eddie Irvine achou por bem desdobrar-se (i.e., re-ultrapassar um piloto que já lhe tinha dado uma volta de avanço) de Ayrton Senna, o que lhe valeu um par de murros no final da corrida (imagens não disponíveis). Senna nunca tomou essa atitude reprovável com Alain Prost – tinha-lhe demasiado respeito para isso.

Foi no GP Japão 1993 e, apesar de tudo, Senna acabou por vencer.

Maio 26, 2007

também não sei sobre o que postar.

Liberdade de expressão
Alguns perguntam: para que se inventou a liberdade de expressão? Porque hão-de ter todos o direito de expressar as barbaridades que lhes passarem pela cabeça?

São geralmente os herdeiros de Platão que fazem este tipo de perguntas. Entendem que as massas, o vulgo, a ralé, a grande maioria da população de seres humanos que não se distinguem do comum e se caracterizam pela luta diária e rude pela sobrevivência, estúpidos, bárbaros e incultos – isto é, todos nós… – só usam a liberdade de expressão para dizerem barbaridades e arrasarem qualquer tipo de debate. (Ou então para pôr em causa as suas ideias brilhantes.)

Eles tinham razão. Nietzsche, por exemplo, que é um desses herdeiros de Platão, tinha carradas de razão. É por isso que ele só podia odiar o tempo em que viveu, em que teve de assistir ao triunfo progressivo de uma ideia política que pretendia libertar as massas daquela causa da sua opressão que foi esquecida por Marx: a ignorância.
O caminho é difícil e longo. Pelo caminho, a liberdade de expressão tem de permitir que, efectivamente, sejam ditas muitas “estupidezes” e parvoíces. Mas, no fim de contas, quem nos pode garantir que o que parece parvoíce não se vem a tornar uma ideia muito sábia? O poeta Bocage, por exemplo, é reconhecidamente um génio.
E, além disso, quem somos nós para dizer o que é parvoíce e o que não é? Isso é uma boa desculpa para, em alguns casos, evitar que se digam algumas verdades…

Defendamos, pois, a liberdade de expressão. Em todo o caso, a liberdade de expressão exige que os que a utilizam sejam responsáveis, e que a utilizem de forma construtiva. A democracia constrói-se com cidadãos esclarecidos e responsáveis, e não com bárbaros.
Este processo de melhoria é longo e difícil, mas é assim que a democracia tem evoluído ao longo dos últimos 200 anos, para desespero dos Nietzsches…

Março 13, 2007

“7) Proibir a contracepção e a investigação no campo da biologia de reprodução. Estas coisas contribuem para a independência das mulheres e para o sexo extramarital (…)

8) Reduzir o nível de vida padrão de toda a sociedade para níveis anteriores a 1995, pois o desafogo permite que pessoas solteiras, divorciadas, mulheres trabalhadoras e outros (…) se safem economicamente sozinhos. A família nuclear precisa de uma pitada de pobreza (nem de mais, nem de menos) para se manter.

9) Finalmente, remassificar a nossa sociedade (…) resistindo a todas as mudanças – na política, na arte, na educação, nos negócios ou noutros campos – que conduzam à diversidade, à liberdade de movimento e ideias ou à individualização. A família nuclear só permanece dominante numa sociedade de massas.
Em resumo (…) se desejamos verdadeiramente restaurar a família da Segunda Vada, será melhor prepararmo-nos para restaurar a civilização da segunda Vaga como um todo, congelar não só a tecnologia, mas também a própria história.”

Alvin Toffler (1980), A Terceira Vaga, Edição Livros do Brasil, p. 209-210

2 anos de Sócrates – que oposição?

Março 12, 2007

“Se queremos realmente restituir a família nuclear ao seu anterior domínio, coisas que podíamos fazer. Seguem-se algumas:

1) Congelar toda a tecnologia no seu estádio de Segunda Vaga para manter uma sociedade de produção em massa e com base na fábrica. Começar por destruir o computador. O computador é uma ameaça maior para a família nuclear do que (…) todos os movimentos gays e pornografia do mundo (…)

2) Subsidiar a manufactura e bloquear a ascensão do sector de serviço na economia. Os empregados de escritório, as profissões liberais e os trabalhadores técnicos são menos tradicionais (…)

3) Resolver a crise de energia aplicando energia nuclear e outros processos energéticos altamente centralizados. A família nuclear ajusta-me melhor a uma sociedad centralizada (…) e os sistermas de energia afectam grandemente o grau de centralização social e política.

4) Banir os media crescentemente desmassificados, começando pela televisão por cabo e cassete*, (…) As famílias nucleares funcionam melhor onde há um consenso nacional sobre informação e valores, e não numa sociedade baseada em grande diversidade.

5) Recambiar à força as mulhres para a cozinha. Reduzir os ordenados das mulheres ao mínimo absoluto. Enfraquecer as provisões sindicais (…) para garantir que as mulheres se encontrem em cada vez maior desvantagem na força de trabalho. A família nuclear não tem núcleo se não ficarem nenhuns adultos em casa (…)”

(continua)

* não esquecer que o livro é mesmo de 1980.

Março 11, 2007

“Hoje dizem-nos repetidamente que «a família» está a desmoronar-se ou que «a família» é o nosso problema número um. (…) No entanto, quando falam de «família» tipicamente não se referem à família em toda a sua luxuriante variedade de formas possíveis, mas sim a um tipo particular de família (…) o que têm em mente é um marido-que-ganha-o-pão, uma mulher-dona-de-casa e um certo número de filhos pequenos. Embora existam muitos outros tipos de família, foi esta forma familiar particular – a família nuclear – que a civilização da Segunda Vaga idealizou, tornou dominante e espalhou pelo mundo. (…) a sua estrutura ajustava-se perfeitamente às necessidades de uma sociedade de produção em massa com valores e estilos de vida largamente aceites, poder burocrático hierárquico e uma clara separação entre a vida doméstica e a vida no mercado de trabalho. (…) Se queremos realmente restituir a família nuclear ao seu anterior domínio, coisas que podíamos fazer. Seguem-se algumas: (…)

(continua)

Março 10, 2007

Crise de Valores
“Durante a Grande Depressão da década de 1930, milhões de homens foram despedidos do emprego. (…) muitos mergulharam em extremos de desespero e culpa, com o ego despedaçado pelo talão cor-de-rosa do despedimento.
Com o tempo, o despedimento veio a ser visto a uma luz mais razoável – não como resultado da indolência ou da fraqueza moral do indivíduo, mas sim de forças [económicas e políticas] gigantescas fora do controlo do indivíduo (…) eram estas coisas, e nãoi a fraqueza pessoal dos trabalhadores dispensados, que causavam o desemprego. Os sentimentos de culpa eram, na maioria dos casos, ingenuamente injustificados.
Hoje, mais uma vez, egos quebram-se como ovos contra a parede. Hoje, no entanto, o sentimento de culpa associa-se mais à fractura da família do que à economia. Os milhões de homens e mulheres que se afastam dos destroços dispersos do seu casamento também sentem as agonias da auto-culpabilização. E mais uma vez a maior parte desse sentimento de culpa é injustificado. (…) quando o divórcio, a separação e outras formas de desastre familiar abrangem milhões de pessoas ao mesmo tempo e em muitos países, é absurdo pensar que as causas são puramente pessoais. (…)

Alvin Toffler (1980), A Terceira Vaga, Edição Livros do Brasil, p. 206-207

(continua)

(o que vale é que haverá sempre pessoas a pugnar pelos valores e contra o descalabro moral.)

Março 8, 2007

Coincidências!
“Imaginem que num grupo de pessoas há duas que fazem anos no mesmo dia. Tentem estimar o tamanho do grupo para o qual a probabilidade de isso acontecer é igual à de não acontecer (50%).
Muitas pessoas apontam para um número à volta de 360, os dias do ano, ou 180, a metade. Mas na realidade com um grupo de 23 pessoas a probabilidade de haver pelo menos duas com aniversários coincidentes é superior a 50%. Com 60 pessoas a probabilidade é de 99%. O cálculo está explicado na Wikipédia, e é fácil perceber porque é assim se consideramos que num grupo de 23 pessoas há 506 pares diferentes. Mas a estimativa intuitiva é completamente errada. O nosso cérebro não evoluiu para fazer facilmente este tipo de cálculo.
Outra dificuldade é a nossa tendência de dar mais importância ao que é mais saliente. Um bom exemplo são as “estranhas” semelhanças entre Kennedy e Linclon. Eleitos para o congresso em 1946 e 1846, presidentes em 1960 e 1860, ambos assassinados à sexta feira, e assim por diante. Parece demais para ser coincidência, mas é difícil de estimarmos o número imenso de coisas que ficaram de fora por serem diferentes (o nome da sogra, a padaria que frequentavam, a marca da bicicleta que tinham em criança, etc.), e o número de possíveis combinações de presidentes onde procurar semelhanças. Basta num grande número de acontecimentos há certamente alguns que são extremamente raros, mas por pura coincidência. Afinal, por muito difícil que seja para qualquer pessoa ganhar o Euromilhões, não é difícil que alguém ganhe.
Finalmente, a falácia comum da falsa dicotomia: se não é laranja, então tem que ser maçã. Isto leva a conclusões injustificadas só porque «não pode ser coincidência». Por exemplo, quando o Sol está na casa de Capricórnio há muito mais acidentes rodoviários. Isto não é coincidência, no sentido de ser por acaso, pois a diferença é estatisticamente significativa. Mas não tem nada a ver com a astrologia. O signo do Capricórnio inclui o Natal e o Ano Novo, e é o maior número de condutores embriagados que faz aumentar os acidentes.
Em suma, se alguém vos diz que não pode ser coincidência por isso qualquer coisa, o mais certo é estar errado em ambas. Provavelmente é coincidência e, mesmo que não fosse, não queria dizer nada.

(se alguém quiser o autor, é só pedir)

A Burocracia mata – Dupla vergonha para Portugal!
Um cidadão alemão tentou, durante 8 anos, abrir um restaurante em Sagres, lutando arduamente contra a burocracia. No dia da abertura, percebeu que afinal não tinha licença para abrir, aparentemente por uma troca de nome…
Que a burocracia mata, já sabemos. Para além da vergonha que é esta situação, temos ainda outra: o silêncio que se abate sobre estas coisas.
Silêncio de morte.